Pesquisadores de um hospital de Oxford, no Reino Unido, desenvolveram uma inteligência artificial capaz de fazer diagnósticos a partir de exames para doenças cardíacas e câncer do pulmão. O sistema pode poupar milhões de libras ao permitir que essas doenças sejam detectadas precocemente.
A tecnologia para problemas no coração estará disponível gratuitamente no sistema público de saúde britânico, o NHS, a partir do fim do primeiro semestre de 2018. Segundo o governo, isso pode “salvar o NHS” ao reduzir em 50% os 2,2 bilhões de libras (quase R$ 10 bilhões) gastos anualmente com serviços de análise de patologias.
Atualmente, os cardiologistas conseguem dizer se há um problema a partir do ritmo de batidas do coração identificado em exames. Mas até mesmo os melhores médicos falham em um a cada cinco casos. Os pacientes acabam mandados para casa e têm um ataque cardíaco ou passam por cirurgias desnecessárias.
O sistema criado pelo hospital John Radcliffe faz um diagnóstico baseado nestes exames com maior precisão e consegue detectar detalhes invisíveis aos olhos humanos. O sistema dá recomendações ao concluir que o paciente corre o risco de ter um infarte.
A tecnologia passou por testes clínicos em seis unidades cardíacas. Os resultados serão publicados este ano em uma revista científica depois de serem revistos por especialistas, mas o cardiologista Paul Leeson, que desenvolveu o sistema, diz que os dados apontam que a técnica superou em muito a performance de médicos.
“Como cardiologistas, aceitamos que nem sempre acertamos. Mas, agora, há a possibilidade de fazer melhor”, afirma Leeson à BBC.
Hoje, são feitos 60 mil exames cardíacos por ano no Reino Unido, dos quais 12 mil são diagnosticados incorretamente. Estima-se que isso custe 600 milhões de libras (mais de R$ 2,6 bilhões) ao NHS em operações desnecessárias e com o tratamento de quem teve um enfarte depois de passar por exames.
Chamado Ultromics, o sistema foi treinado para identificar problemas em potencial ao ser alimentado com dados de exames de mil pacientes tratados por Leeson nos últimos sete anos, junto com informações sobre eventuais problemas cardíacos porteriormente. Os resultados apontam que a economia gerada pode chegar a 300 milhões de libras por ano.
Outro sistema em desenvolvimento procura por sinais de câncer do pulmão, como nódulos. Os médicos não conseguem dizer se são benignos ou se podem tornar-se tumores, então, os pacientes precisam fazer mais exames para acompanhar o progresso.
No entanto, testes clínicos mostraram que a inteligência artificial é capaz de identificar os casos inofensivos, levando o NHS a economizar dinheiro e, aos pacientes, vários meses de ansiedade. Também pode fazer um diagnóstico precoce de câncer do pulmão.
O sistema também é comercializado pela empresa Optellium. Timor Kadir, diretor de ciência de tecnologia da companhia, afirma que os testes feitos em Manchester apontam que mais de 4 mil casos podem ser diagnosticados mais cedo e, assim, aumentar as probabilidades de sobrevivência destes pacientes.
“Num sistema de recursos limitados como o NHS, em vez de nos concentrarmos na economia de custos, pesquisamos como oferecer um serviço de saúde melhor para as pessoas pelo mesmo dinheiro. Esse é o potencial da inteligência artificial no Reino Unido”, afirmou Kadir.
O diretor estima que um sistema de diagnóstico de tumores pulmonares pode reduzir em 10 bilhões de libras (mais de R$ 40 bilhões) os gastos na área se for adotado nos Estados Unidos e na União Europeia.
Ciberia // ZAP