Depois de um impasse que já durava 19 dias, a Promotoria de Agrigento, na ilha da Sicília, na Itália, ordenou nesta terça-feira (20/08) a apreensão do navio humanitário espanhol Open Arms e o desembarque imediato no porto de Lampedusa dos cerca de 90 migrantes que continuavam a bordo da embarcação.
O promotor da cidade, que responde pela ilha de Lampedusa, Luigi Patronaggio, tomou a decisão após visitar a embarcação, acompanhado de vários médicos, para verificar a situação dos migrantes, que a tripulação descreveu como “desesperadora”.
Patronaggio foi de helicóptero a Lampedusa, diante do agravamento da situação. Na manhã desta terça-feira, 15 migrantes pularam no mar, sem salva-vidas, tentando alcançar terra a nado. O promotor chegou a classificar a situação como “explosiva”.
“Depois de 19 dias, desembarcaremos hoje em Lampedusa. O navio será apreendido temporariamente, mas é um custo que a Open Arms assumiu para garantir que as pessoas a bordo possam ser atendidas”, afirmou o diretor e fundador da ONG de ajuda humanitária, Oscar Camps.
A decisão do procurador é o último episódio de uma saga que começou há mais de duas semanas, quando o navio humanitário resgatou, em 1º de agosto, 134 pessoas do mar Mediterrâneo ao longo da costa da Líbia. Desde então, Itália e Malta vinham recusando ao Open Arms o acesso aos seus portos.
Depois de duas semanas retido no mar, a ONG espanhola que opera o navio disse que a situação na embarcação estava “fora de controle”. No sábado, o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, autorizou o desembarque de 29 menores, e, no dia seguinte, o governo espanhol propôs receber o navio em Algeciras.
A Opens Arms declinou a oferta devido a impossibilidade de seguir viagem dada a “situação insustentável” a bordo. Os passageiros estavam dormindo todos juntos no convés do navio e compartilhando os dois únicos banheiros que havia a bordo. A tensão e a longa espera causou ainda brigas no navio. Nesta terça-feira, a Espanha enviou um navio militar para buscar os migrantes, porém, a embarcação só chegaria em Lampedusa daqui a três dias.
Os 83 migrantes, a maioria de países africanos, que ainda estavam a bordo do navio humanitário começaram a desembarcar na ilha de Lampedusa por volta das 23h50 (horário local). Com a ordem da promotoria italiana, o navio da Open Arms terá que ficar mais duas semanas na Itália, durante as investigações.
O Ministério Público investiga um possível crime de sequestro de pessoas, não dirigido a qualquer pessoa concretamente, para determinar por que os resgatados pelo navio não puderam desembarcar na Itália, apesar de um tribunal do país ter derrubado a proibição imposta por Salvini.
Alemanha, França, Romênia, Portugal, Espanha e Luxemburgo haviam se oferecido para receber os migrantes. Mesmo assim, Salvini se recusou a permitir que a embarcação atracasse em Lampedusa.