Esta quinta-feira (6) marca o 75º aniversário do primeiro ataque com bomba atômica do mundo. Cerca de 140 mil pessoas morreram no bombardeio à cidade japonesa, realizado pelo Estados Unidos no fim da Segunda Guerra Mundial. Em tempos de pandemia, a data histórica foi lembrada em uma cerimônia mais discreta, transmitida via internet.
Às 8h15 de 6 de agosto de 1945, o avião americano B-29 Enola Gay lançou a bomba atômica apelidada de “Little Boy” e destruiu a cidade de Hiroshima, no Japão. Cerca de 40 mil pessoas morreram instantaneamente e, nos meses seguintes, outras 100 mil morreram em decorrência de ferimentos e doenças provocadas pela radiação.
Às 8h15 desta quinta-feira (6) soaram sirenes e sinos de templos japoneses, seguidos por um minuto de silêncio solene em memória às vítimas do bombardeio, um dos marcos finais da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
“75 anos após o bombardeio de Hiroshima, a humanidade enfrenta uma nova ameaça: o novo coronavírus. Mas nós aprendemos com as tragédias do passado e vamos superá-la”, declarou o prefeito Kazumi Matsui.
“Em 1918, a gripe espanhola ceifou milhares de vidas e aterrorizou o mundo, enquanto as nações se confrontavam na Primeira Guerra Mundial. Depois, o nacionalismo levou à Segunda Guerra Mundial e às bombas atômicas. Não podemos permitir que esse passado doloroso se repita. A sociedade civil deve recusar o nacionalismo e se unir contra todas as ameaças”, acrescentou Matsui na sua declaração de paz.
Neste ano, a cerimônia foi menor devido à pandemia de covid-19. Em anos anteriores, o Parque Memorial da Paz de Hiroshima recebeu autoridades japonesas, diplomatas e dignitários de diversos países, além de 50 mil visitantes.
Transmitido ao vivo pela internet, desta vez o evento contou com apenas 880 assentos, posicionados a uma distância de 2 metros cada, como diretriz de distanciamento social.
Símbolo de paz
“Na época, dizia-se que nada poderia crescer aqui por 75 anos. Entretanto, Hiroshima se reergueu, tornando-se um símbolo de paz”, definiu.
Em tom forte, mas diplomático, o prefeito pediu para o governo japonês assinar o Tratado de Proibição de Armas Nucleares das Nações Unidas para banir arsenais atômicos. Também defendeu expandir a área da “chuva negra”, que caiu após as explosões nucleares, a fim de legitimar mais sobreviventes e garantir seus direitos diante da justiça japonesa.
No fim de julho, às vésperas do marco de 75 anos, um tribunal reconheceu, pela primeira vez, 84 japoneses atingidos pela chuva radioativa como “hibakusha”, isto é, sobreviventes de Hiroshima. A partir de agora, os 84 idosos, com idades entre 75 e 96 anos, terão atendimento médico gratuito, assim como os demais sobreviventes do ataque americano.
O primeiro-ministro Shinzo Abe sinalizou que o arquipélago japonês fará o possível para construir um mundo livre de armas atômicas. No seu discurso, porém, o premiê não citou o tratado de desarmamento nuclear, datado de 2017, mas até agora não assinado pelo Japão.
“O único modo de eliminar o risco nuclear é eliminar as armas nucleares”, definiu o diplomata português António Guterres, atual secretário-geral das Nações Unidas, em mensagem gravada em vídeo e transmitida durante a cerimônia, encerrada às 8h51.
No domingo (9), outro memorial acontecerá em Nagasaki, alvo da segunda e última bomba atômica da história: lançada pelos americanos três dias após Hiroshima, a bomba “Fat Man” matou mais de 75 mil pessoas em questão de segundos.
Até março deste ano, as autoridades atestavam 136.682 sobreviventes ainda vivos de Hiroshima e Nagasaki.
// RFI