Uma das conservadoras mais populares do Facebook ganhou visibilidade com vídeos ácidos contra os liberais americanos.
Ela é uma defensora da liberdade de expressão. Diz a seus oponentes que eles devem “sentar e parar de fazer escândalos”. Uma antifeminista que admira mulheres fortes. Uma fã de rap que antagonizou o movimento Black Lives Matter (“As vidas dos negros importam”, em tradução livre).
Tomi Lahren é uma republicana de 24 anos que gosta de provocações e se tornou uma das comentaristas mais seguidas no Facebook nos EUA. Diz que tudo o que quer é apenas começar uma conversa.
Apresenta um programa na plataforma multimídia The Blaze, disponível em TV, internet e rádio, mas a sua fama vem de um segmento em particular. É o “Final Thoughts” – três minutos de ideias despejadas em alta velocidade, em que ela fala 50% mais rápido do que a média, olhando diretamente para a câmera.
Os comentários são ácidos, cheios de sarcasmo e, dependendo de sua perspectiva política, diretos e estimulantes ou desagradáveis e enfurecedores.
Os vídeos de Lahren frequentemente geram mais acessos do que os postados, por exemplo, na página oficial do presidente eleito Donald Trump no Facebook.
Talvez o de maior audiência tenha sido o comentário em que ataca o jogador de futebol americano Colin Kaepernick, após ele declarar que se ajoelharia em vez de ficar de pé quando o hino nacional dos Estados Unidos tocasse antes dos jogos.
Kaepernick disse que o gesto era um protesto contra a opressão racial. Lahren, por sua vez, despejou sua ira contra o atleta com sua já característica acidez.
“Colin, eu apoio seu direito à liberdade de expressão. Vai fundo, amigo!”
“Se esse país te enoja tanto, vá embora”, ela continua. “Parece-me que culpar os brancos por todos os seus problemas pode fazer com que você seja o racista.”
Ela continua e ataca suas origens, dinheiro e aptidões atléticas (uma promessa do esporte, Kaepernick tem tido problemas nas últimas temporadas) até concluir com um último golpe: “Se você quiser se sentar, agora é o momento. No banco de reservas, pois você é péssimo. Mas talvez você deva se levantar para o hino”.
O vídeo foi assistido mais de 66 milhões de vezes.
As postagens renderam a ela um séquito de fãs, críticos e muita reprovação por parte dos liberais. “White Power Barbie” (ou “Barbie da Supremacia Branca”, em tradução livre) é um dos insultos mais comuns – muitos outros são impublicáveis.
E, em tempos de redes sociais, ela toca num ponto crucial: “Quer você me ame ou odeie, você continua assistindo”.
Para quem espera uma ideóloga irada, conhecer Lahren pessoalmente pode te pegar um pouco desprevenido. Nos escuros estúdios da The Blaze nos arredores de Dallas, ela fica relaxada, simpática e fala rápido, como sempre.
Lahren cresceu em uma família rural na Dakota do Sul e tem ascendência norueguesa e alemã. Mas é rápida em enfatizar: “Sou americana primeiro e antes de tudo”.
Ela conta que seus pais não eram exatamente engajados com política, mas que a família assistia junta aos noticiários noturnos e discutia eventos da atualidade.
“Foi ali que aprimorei minhas habilidades para o debate”, diz. “Foi ali que tudo realmente começou, muito, muito jovem.”
Depois de estudar na Universidade de Nevada, em Las Vegas, ela ganhou um programa no canal conservador One America News, até ser contratada pela The Blaze.
Jornalismo tradicional, afirma, não é para ela. “Nunca quis ser neutra”, conta. “Eu nunca quis informar as notícias, eu queria comentar as notícias, eu queria fazer as notícias.”
Justa e equilibrada ela também não é. Lahren adota uma argumentação ao estilo de Trump em temas como imigração e o islamismo.
Ela comparou o movimento Black Lives Matter à Ku Klux Klan e não apenas no vídeo sobre Kaepernick, mas em outros também, ela culpa os negros americanos pelo desemprego, uso de drogas e outros problemas sociais.
Em questões relacionadas às mulheres, toca em um ponto que vem se popularizando na direita – o de que o feminismo, no passado uma busca louvável por igualdade, foi levado “longe demais” por radicais acadêmicas.
“Acredito no empoderamento feminino, gosto de elevar as mulheres, gosto de ajudar as mulheres atrás de mim e à minha frente”, diz. “Admiro (a apresentadora de TV) Oprah Winfrey, mulheres de esquerda, de direita, em todo lugar.”
Lahren diz que seu rápido sucesso entre os conservadores no Facebook causou alguns problemas em sua vida pessoal.
“É algo difícil explicar para as pessoas que, se você for associado a mim, você pode sofrer alguma consequência, pode ser atacado nas redes sociais”, afirma. “Sempre tenho que fazer um preâmbulo em meus relacionamentos com esse aviso.”
Isso custou a ela um namoro – o término foi tema de um “Final Thoughts” um tanto diferente. Teve quase dois milhões de visualizações.
Durante a eleição americana, Lahren inicialmente apoiou o senador Marco Rubio, da Flórida, mas depois passou firmemente para o lado de Donald Trump.
“Estou desafiando a maneira como as pessoas observam seu próprio mundo, elas não foram questionadas no passado”, afirma. “Cutuquei a onça”.
Ela é a personagem de mais sucesso da Blaze nas redes sociais, o que é muito interessante considerando a trajetória de seu fundador.
Glenn Beck, que destilava teorias da conspiração em seu programa na Fox News, tornou-se um opositor de Trump – recentemente, disse à revista New Yorker que Obama o tornou um homem melhor.
Lahren nega que as diferenças causem tensão nos estúdios. “Por sorte temos um ambiente em que podemos discordar.”
Obama é um alvo recorrente. Será que ela vai mudar quando um republicano chegar à Casa Branca?
“Sempre serei o lado mais fraco, sempre terei uma batalha difícil”, afirma. “Não vou criticar Donald Trump se ele tiver de fazer concessões, porque isso faz parte do papel de um bom líder. Mas vou cobrá-lo, há muitos americanos contando com ele.”
// BBC