O presidente da Argentina, Mauricio Macri, chegará nesta terça-feira a Brasília para uma visita que pretende ser um incentivo para o desaquecido comércio bilateral e um empurrão para uma maior abertura do Mercosul aos mercados mundiais.
Macri será recebido pelo presidente Michel Temer, com quem compartilha a visão de que é necessário reduzir o peso dos governos na atividade econômica para abrir amplos espaços para o desenvolvimento do investimento privado.
Será a primeira visita de Estado de um líder latino-americano ao Brasil desde que Temer chegou ao poder após o impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2016. Dessa forma, Macri retribui a viagem que o peemedebista fez a Buenos Aires em outubro.
O segundo encontro entre os dois ocorrerá em um momento em que o comércio bilateral, eixo das relações entre as maiores economias do Mercosul, está em franca decadência.
O comércio entre os dois países, que há poucos anos chegou a US$ 35 bilhões, fechou 2016 em US$ 22,5 bilhões, com um superávit a favor do Brasil na casa de US$ 4 bilhões.
Em parte, essa queda foi atribuída à severa crise vivida pela economia brasileira, imersa em uma profunda recessão e que lembra a muitos uma velha máxima repetida pelo próprio Macri nos últimos meses: “Quando o Brasil espirra, a Argentina sofre uma pneumonia“.
Um dos setores fundamentais na relação entre os dois países é a indústria automotiva. Um acordo de livre-comércio foi firmado e entrará em vigor em 2020, mas ainda existem diversas restrições.
O subsecretário para a América Latina do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Paulo Estivallet, disse que o governo Temer acredita que algumas dessas restrições serão revisadas.
“Na medida do possível trabalharemos para que, durante a presidência argentina do Mercosul, no primeiro semestre deste ano, e durante a brasileira, no segundo semestre, possamos avançar o máximo possível na eliminação de barreiras comerciais entre os países”, afirmou o diplomata.
Dentro da análise que Macri e Temer farão da situação do bloco integrado por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai (a Venezuela está suspensa), estão as negociações comerciais com a União Europeia (UE), mas também a busca de uma maior abertura para outras regiões.
Fontes dos governos dos dois países e dos outros membros do Mercosul afirmaram que as políticas protecionistas anunciadas pelo novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem ser uma oportunidade para a busca de novos mercados.
Essa avaliação foi feita, por exemplo, pelo ministro de Produção da Argentina, Francisco Cabrera, durante visita realizada na semana passada a Brasília, preparatória para a viagem de Macri.
“Em um momento em que se assiste ao retorno do protecionismo, é imperioso fortalecer a integração regional e ampliar a rede de acordos internacionais”, defendeu o ministro argentino.
Fontes do governo brasileiro confirmaram que há “pleno acordo” nessa linha de pensamento entre Macri e Temer. Além do acordo com a UE, o Mercosul pretende realizar negociações com Japão, Coreia do Sul e Canadá, afetados pela decisão dos EUA de abandonar a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês).
A visita de Macri, por ser de Estado, incluirá depois do encontro com Temer uma série de reuniões com autoridades do Legislativo e do Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, o presidente argentino voltará amanhã mesmo para Buenos Aires.
// EFE