Uma pesquisa apurou novos dados sobre o crescimento da máfia da Sicília, concluindo que suas origens estão associadas ao aumento da procura e dos lucros resultantes da produção de limões e de laranjas, no final do século XIX.
O estudo, realizado por pesquisadores da Queen’s University em Belfast (Reino Unido), da Universidade de Manchester (Reino Unido) e de Gotemburgo (Suécia), constata que a máfia siciliana se instalou e cresceu no âmbito da procura pública por frutas cítricas, em especial limões e laranjas.
Uma procura que foi incrementada pela descoberta, por parte do médico James Lind, no final do século XIX, de que essas frutas ajudavam a prevenir e a curar o escorbuto, por serem ricas em vitamina C, notam os pesquisadores em comunicado divulgado pelo site Alpha Galileo.
Os primeiros registros da máfia siciliana são dos anos de 1870 e, desde cedo, ela se infiltrou na vida econômica e política da Itália e dos EUA.
As razões para os “assassinatos, atentados e desvios de dinheiro público” são práticas “observadas durante os últimos 140 anos”, mas “as razões por trás do seu aparecimento continuam obscuras”, salienta o professor de Economia Arcangelo Dimico, membro da Escola de Gestão da Queen’s University que esteve envolvido na pesquisa.
Aquilo que a investigação permitiu perceber é que “a presença da máfia nos anos de 1880 é fortemente associada com a prevalência do cultivo de citrinos“ na Sicília, destacam os autores do estudo que analisaram dados das cidades sicilianas recolhidos durante um inquérito parlamentar realizado entre 1881–1886 e a partir de 1900.
“Dada a posição dominante da Sicília no mercado internacional de frutas cítricas, o aumento na procura resultou em uma grande entrada de receitas para as cidades produtoras destas frutas, durante os anos 1800″, explica o professor.
“A combinação de altos lucros, de um Estado de direito fraco, de um nível muito baixo de confiança interpessoal, e os altos níveis de pobreza local fizeram dos produtores de limão um alvo adequado da máfia, já que havia poucos meios para efetivamente reforçar os direitos de propriedade privada”, acrescenta o pesquisador.
Assim, “os produtores de limão recorreram à contratação de afiliados da máfia para proteção privada e para agirem como intermediários entre os varejistas e os exportadores nos portos”, nota o professor.
Até agora, as origens da máfia eram essencialmente atribuídas à instabilidade política italiana e, em particular, à realidade siciliana e às fraquezas do seu sistema institucional. Mas, afinal, teria sido o boom econômico, fomentado pela procura de laranjas e limões, que impulsionou a atividade da máfia, constata a pesquisa.
Ciberia // ZAP