Soa estranho que alguém diga: “Não baixem os impostos!”. Mais ainda se o pedido vier numa carta ao Congresso dos Estados Unidos assinada por 400 magnatas.
Diretores de empresas, donos de companhias, empreendedores, médicos, advogados e uma série de pessoas com grandes fortunas argumentam que, se os impostos forem reduzidos, haverá um “aumento da desigualdade”, num momento em que a dívida do país está alta e a desigualdade social alcançou o pior nível desde a década de 1920.
A carta, que foi promovida por um grupo chamado Responsible Wealth e assinada por nomes como Ben Cohen e Jerry Greenfield, da cadeia Ben & Jerry’s, George Soros, Steven Rockefeller, Eileen Fisher e várias outras pessoas que integram o grupo de 5% mais ricos do país, foi divulgada no momento em que congressistas debatem os detalhes de uma reforma tributária anunciada pelo presidente Donald Trump em abril desse ano.
A reforma tem sido acusada de beneficiar grandes empresas e corporações, em vez de focar na redução de tributos pagos pela classe média. O governo argumenta, porém, que o objetivo da reforma tributária é gerar maior competitividade para as empresas norte-americanas.
“Nossa intenção não é baixar os impostos dos ricos. Mas se alguém vai obter uma baixa nos impostos com a reforma, a mim não me incomoda”, disse Gary Cohn, o chefe do Conselho Econômico da Casa Branca, em entrevista à emissora CNBC. “Estamos baixando impostos corporativos para gerar competitividade em relação ao resto do mundo“.
O debate entrou na reta final. O Senado e a Câmara de Representantes já apresentaram suas propostas e a expectativa é que o projeto seja votado em dezembro. Com este prazo, muitos veem estas semanas de novembro como a última oportunidade para influenciar na votação.
‘Se a minha renda subir, não vou investir mais’
Os magnatas que assinam a carta contrária aos termos da reforma tributária – uma iniciativa da organização “Riqueza Responsável” – dizem que as empresas norte-americanas registraram lucros recordes e que os milionários não precisam de mais dinheiro.
Pelo contrário, eles asseguram que estão dispostos a aceitar impostos mais altos se o dinheiro for investido em áreas como educação, fiscalização e infraestrutura, ou para garantir a continuidade de programas públicos de saúde destinados aos mais pobres.
“Tenho uma renda alta. Se ela sobe, não vou investir mais. Simplesmente vou poupar mais”, disse Bob Crandall, ex-diretor-executivo da American Airlines.
“Os republicanos dizem que não podemos permitir que haja aumento de gastos, mas, ao mesmo tempo, que podemos dar aos ricos uma grande redução de impostos. Isso não faz sentido.
Ainda que haja diferenças nas propostas de reforma tributária feitas por senadores e por deputados, ambas reduzem os tributos para uma grande quantidade de milionários.
Os magnatas que criticam a reforma questionam a proposta de eliminar o imposto sobre herança, pago sobre ativos herdados que ultrapassarem os R$ 18 milhões.
“Só com o corte do imposto sobre herança haverá uma perda de US$ 269 bilhões (R$ 884 bilhões) em 10 anos, mais que os orçamentos combinados da agência de Administração de Alimentos e Medicamentos, os Centros para Controle e Prevenção de Enfermidades e a Agência de Proteção Ambiental”, diz a carta assinada pelos milionários.
“Esta é uma das poucas vezes em que deputados são pressionados por pessoas que não querem que seus impostos sejam cortados“, diz Mie Latham, um dos coordenadores do Responsible Wealth.
“Os ricos não precisam disso“, conclui Latham.
// BBC