O grupo norte-americano Monsanto teria reunido secretamente informações de centenas de políticos, jornalistas, cientistas e ativistas da França que criticavam suas atividades.
O documento trata algumas personalidades como “alvos prioritários” ou indivíduos “a serem vigiados”. Várias pessoas listadas decidiram apresentar queixa contra a empresa. A revelação foi feita em uma reportagem investigativa que foi ao ar na noite de quinta-feira (9) no canal público de televisão francês France 2.
A emissora informou ter recebido arquivos digitais “confidenciais” com a assinatura de agências de comunicação que trabalham para o grupo Monsanto, filial desde o ano passado da gigante química alemã Bayer.
Os nomes citados nas listas eram classificados em função de sua posição sobre os pesticidas produzidos pela Monsanto, especialmente o glifosato. Alguns arquivos usaram dados privados das personalidades “fichadas”.
O glifosato, o herbicida mais utilizado no mundo, é considerado um “provável cancerígeno” desde 2015 pelo Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer, uma agência da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ele é comercializado sob diversas marcas, sendo a mais conhecida a Roundup da Monsanto, e é frequentemente alvo de críticas de personalidades do mundo todo.
Um dos documentos divulgados pela reportagem traz um logotipo da Monsanto e da gigante francesa da publicidade Publicis. A lista, que data de 2016, classifica os principais atores do debate sobre os pesticidas na França em função de seu grau de influência.
Uma segunda agência de comunicação, a Fleishman Hillard, teria utilizado em 2016 outro arquivo, que reúne especialmente os endereços particulares ou os números de telefone em uma “lista vermelha” de 200 personalidades.
Um terceiro arquivo mostrado pela reportagem apresenta uma tabela com nomes e aponta 74 objetivos prioritários, divididos em quatro grupos: os “aliados”, os “potenciais aliados para recrutar”, as personalidades “a educar” e aquelas “a vigiar”.
Ex-ministra francesa também era fichada
“É uma descoberta muito importante porque prova que há estratégias objetivas de demolição de vozes fortes”, declarou a ex-ministra francesa do Meio Ambiente Ségolène Royal. Ela fazia parte das personalidades fichadas e, em razão de sua oposição ao glifosato, era classificada como pessoa “a vigiar”.
“Isso mostra os métodos dos lobistas. Eles espionam, se infiltram e influenciam, certamente até de forma financeira”, declara a ex-candidata à presidência.
Além de políticos e militantes, muitos jornalistas fazem parte das listas reveladas. “Isso é inaceitável”, declarou pelas redes sociais Sibyle Veil, presidente da Radio France, que pretende dar queixa contra a empresa.
O jornal francês Le Monde, que também teve um de seus repórteres catalogado, já lançou um processo contra a Monsanto, acusando a gigante americana de usar dados pessoais de forma ilícita.
“O problema dessa multinacional é que eles ‘ficham’ as pessoas sem nenhum limite legal. Isso levanta a questão das liberdades públicas”, denuncia o advogado do Le Monde, François Saint-Pierre.
Foodwatch e Générations Futures, duas ONGs que se opõem aos herbicidas, também vão dar queixa contra os métodos da Monsanto.
// RFI