“A casa grande surta quando a senzala vira médica“. Essa foi a frase escolhida por Bruna Sena, jovem paulista de 17 anos, para dar a grande notícia: ela é a primeira colocada no vestibular de Medicina da USP de Ribeirão Preto, o mais concorridos do país, com 75,58 candidatos por vaga este ano.
Em 2016, de todos os calouros matriculados na USP, 57,7% eram homens, 76,4% eram brancos e 63,3% tinham feito todo o ensino médio em uma escola particular. Nos três casos, Bruna Sena representa a minoria.
Criada apenas pela mãe, uma operadora de caixa de supermercados que recebe menos de dois salários mínimos por mês, Bruna estudou a vida inteira em escola pública e sempre foi ótima aluna, nunca tirando uma nota abaixo de 9.
E tudo isso feito com esforço dobrado, segundo a própria mãe, Dinália Sena, que contou à Folha de S. Paulo que a luta começou no momento do parto de Bruna, que nasceu prematura de 7 meses e teve de ficar 28 dias internada.
“Não tenho nenhum luxo, não faço minhas unhas, não arrumo meu cabelo. Tudo é para a educação dela”, conta a mãe.
Sem nenhum luxo e direcionando grande parte da renda para a educação da filha, a mãe teme agora que ela sofra com o racismo que, infelizmente, ainda circula nos corredores das universidades brasileiras.
A adolescente, que é engajada em diversas causas como o empoderamento feminino, a liberdade de gênero e o movimento negro, conta que o desejo de cursar Medicina veio somente no último ano, por influência dos professores do cursinho popular que fez, comandado pelos próprios alunos da USP.
A opção pela medicina aconteceu há cerca de um ano, por influência de professores do cursinho popular que frequentou o CPM, ligado à própria Faculdade de Medicina da USP-Ribeirão.
Bruna diz que deverá efetuar sua matrícula já nesta primeira semana. Ela diz que a família não poderia estar mais orgulhosa e espera que organizem uma festa para celebrar sua conquista. Afinal de contas, ela é a primeira pessoa da família no ensino superior.
“Não achei nem que fosse passar da primeira fase, te juro. Minha mãe, coitada, não acreditou. Sou a primeira da família a fazer faculdade e não sei se vão fazer alguma comemoração aqui em casa, mas espero que sim”, explica aos risos.
“Minha mãe ralou muito para que eu tivesse esse resultado e preciso honrar isso. Sou grata também a minha escola, ao cursinho. Do meu pai, nunca entendi o desprezo, me incomoda um pouco. Mas agora é hora de comemorar e ser feliz“, diz Bruna Sena.
// Hypeness