Nem vírus chinês, nem variante brasileira: OMS renomeia mutações do Sars-Cov-2 com alfabeto grego

As variantes do coronavírus serão agora identificadas com letras do alfabeto grego, no lugar de siglas, números complicados ou de gentílicos que muitas vezes suscitaram preconceitos e discriminações. O anúncio foi feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na segunda-feira (31).

É o fim da variante brasileira, indiana, sul-africana, britânica e outras que surgirem… ao menos no papel. Também não serão mais utilizadas identificações mesclando letras e números, do tipo B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2. Pode parecer irônico, mas para facilitar a identificação das mutações o alfabeto grego será utilizado.

Assim, a partir de agora, as quatro principais variantes do coronavírus – britânica, sul-africana, brasileira e indiana – serão rebatizadas como Alfa, Beta, Gama e Delta. A letra grega é atribuída conforme a ordem de descoberta.

“Ainda que tenham vantagens, esses nomes científicos podem ser difíceis de pronunciar e memorizar, podendo resultar em erros“, explicou a OMS.

Segundo a organização, a decisão foi tomada depois de uma enxurrada de críticas sobre a confusão em relação aos nomes das variantes. Desde o surgimento dessas mudanças na estrutura do vírus, uma solução de facilidade vem sendo adotada, que é associar a transformação do agente patogênico ao local onde foi descoberta. Foi desta forma, por exemplo que a P1 começou a ser chama de “a variante de Manaus” no Brasil e “a variante brasileira”, fora do país.

Evitar estigmatizações

Para a OMS, esse recurso, em especial, suscitou a estigmatização das populações. Muitos representantes chegaram até mesmo a politizar essa denominação relacionada à origem do patógeno. Foi o caso do ex-presidente americano Donald Trump, que se referia ao Sars-Cov-2 como “o vírus chinês“. Não por acaso a comunidade asiática dos Estados Unidos foi frequentemente alvo de ataques racistas nesses mais de um ano de pandemia.

A comunidade brasileira no exterior também esteve no centro de polêmicas discriminatórias desde que a variante P1 foi descoberta em Manaus. Na França, cidadãos brasileiros chegaram a relatar terem sido vítimas de xenofobia.

Meses de debates

A decisão sobre a mudança nos nomes das variantes não foi simples. Foram meses de debates até que uma solução fosse encontrada.

Um das personalidade envolvidas nesta discussão é o professor Mark Pallen, especialista em genômica e metagenômica de bactérias. Segundo ele, além do alfabeto grego, outras possibilidades para identificar as variantes foram consideradas, como nomes de deuses gregos ou neologismos. No entanto, muitas destas identificações já estavam sendo utilizadas por marcas e empresas.

// RFI

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