Nova variante do coronavírus é identificada em SP

Narendra Shrestha / EPA

A Sociedade Brasileira de Virologia (SBV) anunciou nesta terça-feira (25/05) a descoberta de uma nova variante do coronavírus, identificada em municípios do interior estado de São Paulo.

A nova cepa foi batizada de P.4. Segundo a SBV, a variante contém a mutação L452R na proteína “spike” do vírus, alteração também presente na cepa indiana (B.1.617).

De acordo com João Araújo Júnior, vice-presidente da SBV, citado pelo portal de notícias G1, a origem da P.4 ainda é desconhecida, mas ela foi identificada pela primeira vez na cidade de Itirapina, no interior de São Paulo, a cerca de 215 quilômetros da capital paulista.

O pesquisador apontou que a P.4 é derivada da mesma linhagem que deu origem à P.1, detectada pela primeira vez em Manaus e classificada pela Organização Mundial da Saúde como “variante preocupante”.

“Essa nova variante é parente da P.1, porque ela tem a mesma origem, a origem é a B.1.1.28, que é uma linhagem que deu origem à P.1, à P.2, que foi identificada no Rio de Janeiro, à P.3, que foi identificada nas Filipinas”, afirmou o pesquisador ao G1.

Mês mais mortal em Porto Ferreira

Desde o dia 4 de maio, quando foi identificada pela primeira vez numa amostra, a chamada P.4 foi encontrada em vários municípios do interior paulista e em ao menos um deles, Porto Ferreira, já está circulando livremente, segundo os pesquisadores. Do total de 127 mortes confirmadas no município, 25 ocorreram em maio, o pior mês da pandemia na cidade.

Luiz Nicanor Bettiol Júnior, diretor municipal de saúde de Mococa, uma das cidades onde a variante foi detectada, ressaltou, no entanto, que ainda é cedo para saber se a P.4 é menos ou mais perigosa do que as já existentes. “O que pode se dizer é que foi observada uma característica genética diferente”, disse ao jornal Folha de S. Paulo.

Ainda não foi confirmado se a nova cepa é mais transmissível, como ocorre com a P.1, que é três vezes mais infeciosa do que a cepa original do coronavírus, segundo o Ministério da Saúde.

No entanto, a presença da mutação L452R na variante P.4 está associada a um maior poder de infecção e aparentemente permite que o vírus escape de anticorpos produzidos por pacientes que já superaram a covid-19.

Araújo Júnior afirmou que é importante acompanhar com cuidado a P.4, cuja circulação está aumentando, para evitar que se espalhe para outras regiões.

Segundo comunicado da SBV, estiveram envolvidos na descoberta da P.4 o Instituto de Biotecnologia (IBTEC), Instituto de Biociências – UNESP Botucatu, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) – UNESP, São José do Rio Preto, do Laboratório de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Unesp de Araraquara e da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP Pirassununga (FZEA-USP).

Celeiro de variantes

Com mais de 16 milhões de casos e 452 mortes por covid-19 confirmadas, o Brasil é o segundo país com mais óbitos pela doença, atrás apenas dos EUA, e o terceiro com mais infecções, atrás dos EUA e da Índia.

A alta circulação do coronavírus causador da covid-19, o Sars-Cov-2, transformou um país no que cientistas descrevem como um celeiro de novas variantes. Quanto mais o vírus se dissemina, maior a probabilidade de mutações ocorrerem, dando origem a novas cepas.

A Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo informou, segundo o G1, que até o momento a P.4 não foi oficialmente notificada. “Atualmente, somente três [variantes] são consideradas ‘variantes de atenção’ pelas autoridades sanitárias devido à possibilidade de aumento de transmissibilidade ou gravidade da infecção, por exemplo. São elas: P.1, B.1.1.7 [variante britânica] e B.1.351 [variante sul-africana].”

A OMS classifica como variantes de preocupação global (VOC, na sigla em inglês) a P.1, do Brasil; a B.1.1.7, primeiramente detectada no Reino Unido; a B.1.351, da África do Sul; e a B.1.617, da Índia. São consideradas preocupantes variantes para as quais há evidência de maior transmissibilidade, mais casos graves, redução da capacidade de neutralização por anticorpos, eficácia reduzida de tratamentos ou vacinas, ou falhas no diagnóstico.

Ciberia // Deutsche Welle

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