Uma nova espécie de tardígrados, que são estranhos animais microscópicos, vivia em um parque de estacionamento de um edifício de apartamentos, no Japão.
Esse novo tardígrado foi batizado de Macrobiotus shonaicus e constitui a 168ª espécie destes micro-animais já descoberta no Japão, revelam os pesquisadores responsáveis pela descoberta em um artigo científico publicado nesta quarta-feira (28) na PLOS ONE.
Os tardígrados são extremamente fortes, capazes de sobreviver nas mais adversas condições, incluindo sob temperaturas negativas de 200ºC, ou positivas de 149ºC, ou até em ambientes com radiação ou no vácuo do espaço, realça o Science Alert. Têm um corpo com menos de um milímetro de comprimento, oito pernas e bocas circulares que lhe dão um ar de constante surpresa.
Sendo tão minúsculos, parece espantoso que a nova espécie tenha sido descoberta em uma pequena amostra de musgo retirada do estacionamento de um apartamento em Tsuruoka, uma cidade na costa japonesa.
“A maioria das espécies de tardígrados foi descrita a partir de musgo e líquenes – por isso, qualquer almofada de musgo parece ser interessante para as pessoas que trabalham com esses animais”, explica o cientista da Universidade Keio, no Japão, Kazuharu Arakawa, que se dedica a estudar esses seres microscópicos, em declarações ao Live Science.
Mesmo assim, “foi bastante surpreendente encontrar uma nova espécie em volta do meu apartamento”, confessa o pesquisador.
As análises efetuadas em laboratório permitiram detectar a presença de 10 tardígrados vivendo no pedaço de musgo. Eles foram então divididos em cinco pares. As análises posteriores permitiram detectar em um dos pares a nova espécie Macrobiotus shonaicus.
“Ovos espaguete”
Esses tardígrados têm entre 0.318 e 0.743 milímetros, com o aspecto habitual dos tardígrados, com a boca em forma de O e três filas de dentes. Arakawa explica que eles podem viver em algas, um dado que surpreende porque a maioria das espécies do gênero Macrobiotus é carnívora.
Os ovos são outro fator que espanta o cientista, apresentando uma superfície sólida e filamentos flexíveis, parecidos com espaguete, que sobressaem para fora. Características que “podem ajudar o ovo a aderir à superfície onde é colocado“, revela Arakawa.
Outro aspecto que intriga o cientista é o sexo deste novo tardígrado. “O M. shonaicus tem dois sexos, enquanto outros tardígrados, que são cultiváveis em laboratório, têm sido, sobretudo, partenogenéticos (as fêmeas se reproduzem sem os machos)”, destaca Arakawa.
Deste modo, o cientista repara que a nova espécie “é um modelo ideal para estudar a maquinaria e comportamentos sexuais reprodutivos dos tardígrados”.
Mas o aspecto mais fascinante para Arakawa é a possibilidade de poder estudar melhor a extraordinária capacidade que os tardígrados têm de adaptação a condições adversas. Em 2017, um estudo científico apurou que os tardígrados se transformam em vidro para sobreviver à desidratação.
“Se você procurar uma definição de vida, ela vai conter, provavelmente, algo sobre reprodução e sobre a execução de reações bioquímicas direcionadas para alcançar esse objetivo – essencialmente, a vida tem um metabolismo”, repara o pesquisador.
Mas no caso dos tardígrados, “podem perder toda a sua água corporal, à medida que o ambiente seca”, e, neste “estado anidrobiótico”, “não executam nenhuma bioquímica, nem têm metabolismo”, frisa Arakawa. E conseguem “voltar à vida rapidamente após a reidratação”, acrescenta, concluindo que isso “desafia a compreensão atual da vida e da morte”.
A nova espécie Macrobiotus shonaicus pertence ao grupo Macrobiotus hufelandi, o primeiro a ser descoberto em 1834. Começaram a ser encontrados na Alemanha e na Itália, mas, atualmente, há espécimes detectados por todo o mundo. Há mais de 1.200 espécies de tardígrados identificadas em todo o planeta. Apesar disso, esses curiosos micro-animais continuam um grande mistério.
Ciberia // ZAP