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O orangotango-de-tapanuli viu finalmente a sua existência confirmada. A nova espécie de macacos Tapanuli foi descoberta no sul do lago Toba, na ilha de Sumatra, mas só existem menos de 800 espécimens vivos.
A nova espécie vive na ilha de Sumatra, na Indonésia. Um dos autores do artigo científico em que se descreve o Pongo tapanuliensis como uma nova espécie, publicado nesta quinta-feira (2) na Current Biology, explicou ao jornal português Público que “por volta de 1935 já existiam relatos da sua existência, mas ninguém foi confirmar”.
Erik Meijaard, pesquisador da Universidade Nacional Australiana e um dos autores do estudo, destaca que a população “só foi descoberta em 1997“. No entanto, foram precisos muitos anos de pesquisa para obter provas de que a população não seria a mesma espécie de orangotangos-de-sumatra que se encontram no norte do lago Toba.
Ao longo do tempo, estes primatas foram apontados como “peculiares” por apresentarem uma sequência genética diferente de outros orangotangos que viviam no mesmo lugar. Os cientistas concluíram agora que os orangotangos-de-tapanuli formam a terceira espécie de orangotangos do planeta.
É a primeira vez em 50 anos que uma nova espécie de símio é descrita. Além deste novo grande primata, havia já os orangotangos-de-bornéu e os orangotangos-de-sumatra, ambas reconhecidas em 2001. Em 2013, apareceu material genético – o primeiro esqueleto de um orangotango-de-tapanuli – que permitiu desvendar a terceira espécie.
A equipe de pesquisadores das universidades de Zurique e Liverpool John Moores e do Programa de Conservação dos Orangotangos de Sumatra, confirma agora que há apenas 800 indivíduos vivos da espécie recém-descrita.
Os orangotango-de-tapanuli roubaram assim o lugar aos majestosos Gorilas do Oriente – que, com apenas 5 mil exemplares em todo o mundo, estão à beira da extinção – e são agora os grandes símios mais ameaçados do mundo.
Matt Nowak, outro autor do estudo, alerta que “se não forem tomadas medidas urgentes para diminuir as ameaças presentes e futuras e para conservar cada pedaço de floresta que resta, esta espécie de grande primata estará extinta dentro de poucas décadas”.
Os cientistas alertam ainda para a necessidade de combater ameaças como o tráfico ilegal de orangotangos, a construção de estradas e sua morte durante conflitos com seres humanos. Mas a principal preocupação é um projeto hidroelétrico, proposto recentemente para a área com maior densidade populacional de orangotangos.
“Este projeto pode levar a um maior empobrecimento genético e a maior consanguinidade, uma vez que prejudicaria os corredores de habitat existentes entre a faixa oeste e leste, bem como reservas naturais menores, que mantêm pequenas populações de Pongo tapanuliensis”, lê-se no artigo.
Jonas Landolt / SOCP

Os orangotango-de-tapanuli são agora os grandes símios mais ameaçados do mundo.
“É muito empolgante descobrir um grande primata em pleno século XXI“, salienta Michael Krützen, professor de Antropologia na Universidade de Zurique e também um dos autores do artigo científico.
A grande prioridade dos cientistas agora é garantir que não percamos mais uma espécie daqueles que compartilham 97% do DNA conosco, e que os orangotangos possam continuar a nos ajudar a desvendar a história da evolução humana.