A Turquia cumpriu as ameaças e realizou ataques aéreos nesta quarta-feira (9) na região de Ras Al-Ain, no norte da Síria, fronteira com o território turco.
Ancara havia anunciado o lançamento de uma ofensiva contra a milícia curda, em disparos que geram uma onda de reprovação dos europeus. A França solicitou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para debater a questão.
Os ataques aéreos e disparos de artilharia atingiram a cidade de Ras al-Ain e seus arredores, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). As forças curdas sírias indicam que houve vítimas civis.
A operação militar contra a milícia curda das Unidades de Proteção do Povo (YPG), apoiada por países ocidentais, foi anunciada pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Ancara considera a YPG um grupo terrorista e diz que seu objetivo é criar uma “zona de segurança”, destinada a receber refugiados sírios na Turquia e separar a fronteira das posições das YPG.
Vários países demonstram preocupação com as consequências humanitárias dessa ofensiva. A França afirmou que condena “com muita firmeza” a intervenção militar. “A França, a Alemanha e o Reino Unido estão finalizando uma declaração conjunta que será extremamente clara no fato de que condenamos muito fortemente e com muita firmeza [a operação]”, disse a secretária de Estado para Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, exigiu o fim da ofensiva, que segundo ele “não dará resultados”. Juncker garantiu que nenhum financiamento europeu será dado “para uma zona de segurança”, que a Turquia planeja instalar.
“A Turquia tem problemas de segurança na sua fronteira com a Siria, algo que nós compreendemos. Entretanto, uma incursão vai exacerbar os sofrimentos dos civis”, argumentou o líder da UE. O governo alemão, por sua vez, advertiu que a operação aumenta “o risco de “ressurgimento do grupo terrorista Estado Islâmico” no país.
Trump defende retirada americana
O presidente americano, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira (9) que o envolvimento dos militares americanos no Oriente Médio foi a “pior decisão já tomada” pelo país e que ele estava garantindo o retorno seguro das tropas americanas.
Trump enfrenta uma reação bipartidária desde um anúncio surpresa feito pela Casa Branca no domingo (6), de que Washington estava retirando de 50 a 100 “operadores especiais” da fronteira norte da Síria.
“ENTRAR NO MÉDIO ORIENTE É A PIOR DECISÃO JÁ TOMADA NA HISTÓRIA DE NOSSO PAÍS! Entramos em guerra sob uma premissa falsa e agora não comprovada, AS ARMAS DE DESTRUIÇÃO EM MASSA”, tuitou o presidente em referência à invasão americana do Iraque em 2003.
“Não havia NENHUMA! Agora estamos trazendo lenta e cuidadosamente nossos grandes soldados e pessoal militar para o lar. Nosso foco está no QUADRO GERAL! OS ESTADOS UNIDOS SÃO MAIORES DO QUE NUNCA!“, completou, em seu tradicional estilo de escrita nas redes sociais.
Trump lamentou os US$ 8 bilhões gastos nos combates e operações de vigilância no Oriente Médio e os milhares de soldados americanos que morreram ou ficaram feridos nos conflitos. Calcula-se que os Estados Unidos tenham entre 60.000 e 80.000 militares destacados na área correspondente ao Comando Central dos EUA, que inclui Afeganistão, Iraque e Síria.
Rússia alerta sobre riscos
Mais cedo, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu ao turco Erdogan que refletisse antes de iniciar qualquer ofensiva na Síria, informou o Kremlin em comunicado. “Putin pediu às autoridades turcas não impedir que esforços comuns para resolver a crise síria fossem afetados”, disse o comunicado, após uma conversa telefônica entre os dois presidentes. Moscou é o maior apoio militar ao governo sírio desde o início da guerra no país, em 2011.
Na conversa, Erdogan afirmou que a ofensiva turca contra uma milícia síria curda trará “paz e estabilidade” à Síria. “O presidente declarou que a operação militar […] abrirá o caminho para uma solução pacífica”, disse uma fonte da presidência turca.
Apesar de apoiarem lados opostos na Síria, Rússia e Turquia aumentaram sua cooperação nos últimos anos. No entanto, na terça-feira, Moscou pediu para Ancara evitar ações que possam ser contraproducentes para uma possível resolução do conflito, no momento em que um conselho constitucional foi formado na Síria.
// RFI