Seres humanos são muito parecidos uns com os outros, embora os detalhes particulares de nossas vidas sejam, é claro, bastante únicos. Ainda assim, gostamos de ser vistos como diferentes – e talvez melhores – do que o resto, não é mesmo?
Muitas pessoas se esforçam para parecerem diferentes, declarando sua singularidade através de sua aparência, recusando tendências.
Então, como tantos anticonformistas acabam se parecendo? De acordo com um estudo do matemático Jonathan Touboul, da Universidade de Brandeis (EUA), isso é chamado de “efeito hipster”.
Apesar do nome, essa não é apenas uma questão de moda visual. Conforme Touboul explica, “além da escolha da melhor jaqueta para usar neste inverno, este estudo pode ter implicações importantes na compreensão da sincronização de células nervosas, estratégias de investimento em finanças ou dinâmicas emergentes na ciência social”.
O efeito hipster funciona assim: enquanto os anticonformistas podem, a princípio, conseguir conceber sua própria marca pessoal de rebeldia, ela é seguida por uma inevitável, embora não intencional, sincronização em torno de certas características.
Touboul suspeita que uma grande influência na maneira como isso acontece pode ser a velocidade de propagação de estilos através de uma cultura. Por exemplo, se a moda for ter barba, quem quiser ser diferente pode raspar o rosto. Tantas pessoas acabam raspando o rosto que isso se torna tão comum quanto ter barba.
O modelo
No modelo simples de Touboul, apresentado em um artigo publicado no arXiv em fevereiro, as pessoas são divididas em dois tipos: o convencional, pessoa que segue um padrão tradicional ou da moda, ou hipster, uma pessoa “descolada” que explora diferentes proporções do convencional versus hipster (sem qualquer conotação pretensiosa).
O matemático avaliou, entre outras coisas, as diferentes quantidades de tempo que pode levar para um hipster detectar um novo estilo e responder a ele. Por mais descomplicado que esse cenário seja, Touboul descobriu que a experimentação desses dois fatores produz um conjunto surpreendentemente complexo de comportamentos, embora a sincronização sempre ocorra.
Mesmo quando ele revisa o modelo para permitir mais de dois tipos de pessoas, a sincronização ainda ocorre.
Muitas vezes, é claro, os papéis podem mudar quando há tantos hipsters que eles se tornam o convencional. A mudança repentina ocorre quando o número de indivíduos “tradicionais” e “descolados” é aproximadamente igual – todo mundo acaba trocando entre diferentes tendências.
Mais uma vez, vale a pena notar que a modelagem de Touboul não é apenas sobre hipsters – é sobre a maneira pela qual qualquer grupo de pessoas decide agir de forma contrária ao convencional.
Um exemplo que ele menciona seria o mercado de ações, no qual um número de investidores pode subitamente concluir que há dinheiro a ser feito em ações que não são alvejadas pela maioria. Uma compreensão mais profunda da dinâmica subjacente a tais eventos seria obviamente útil.
Ciberia // HypeScience / Phys.org