Desgaste político e crise entre clã Bolsonaro e PSL minam nomeação do filho do presidente, que dificilmente seria aprovada pelo Senado. Caso ocorre após batalha pela liderança da legenda na Câmara.
O Palácio do Planalto decidiu suspender a indicação de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, para assumir a embaixada brasileira em Washington, em meio a uma crise política envolvendo o chefe de Estado e seu partido, o PSL.
Embora o anúncio da intenção da indicação tenha ocorrido há três meses, o início do processo formal no Senado vinha sendo postergado devido aos temores de falta de apoio ao nome de Eduardo entre os parlamentares, que precisam dar o aval para a escolha de Bolsonaro. Numa sabatina na Casa, o filho do presidente teria de provar que seria capaz de exercer o cargo, apesar de não ter nenhuma experiência diplomática.
Apesar de realizar um corpo a corpo no Senado para tentar angariar apoio em torno de seu nome, Eduardo não conseguiu garantir sustentação para sua indicação e corria o risco de se tornar o pivô de uma amarga derrota para o presidente.
Segundo a imprensa brasileira, a suspensão da indicação seria vista pelo Planalto como uma “saída honrosa” para Eduardo. O presidente adotaria um discurso oficial de que desistiu de indicar seu filho para que ele pudesse permanecer na articulação política do governo, e que Eduardo teria a maioria do Senado a seu favor caso seu nome fosse submetido a uma votação.
Mas, segundo apurou o jornal Correio Brasiliense, Eduardo não conseguiria nem a metade dos votos dos 81 senadores.
Após os rumores da suspensão da indicação, o filho do presidente negou que essa decisão tenha sido tomada, contradizendo uma declaração que havia dado na quarta-feira, quando disse que a nomeação tinha ficado em segundo plano devido a sua tentativa de assumir a liderança do PSL na Câmara.
“Nem eu e nem Jair Bolsonaro falamos nenhum fato novo sobre a embaixada. Parecem estar confundindo as coisas, querendo pôr mais lenha na fogueira”, afirmou Eduardo nesta quinta-feira à revista Crusoé.
A indicação de Bolsonaro era vista com bons olhos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os EUA já haviam formalizado seu aval para a nomeação do filho do presidente para o comando da embaixada brasileira no país. O cargo de embaixador em Washington está vago há quase dez meses. O Planalto não quis comentar o caso.
Eduardo estava sendo cotado para assumir a liderança do PSL na Câmara, em meio ao acirramento da crise entre o clã Bolsonaro e as lideranças do partido, mas após uma disputa envolvendo áudios vazados e uma guerra de listas para definir o líder da legenda na Câmara, os Bolsonaros saíram derrotados.
Derrota para Bolsonaro em disputa interna no PSL
A disputa ocorre em meio a uma barulhenta briga entre Jair Bolsonaro e o presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE), pelo controle do partido. A crise interna eclodiu na semana passada em meio à troca de farpas entre os dois.
Bolsonaro sofreu dura derrota com a manutenção do deputado Delegado Waldir (GO) como líder da bancada do PSL na Casa. Na véspera, aliados do governo haviam tentado tirar Waldir do posto para entregá-lo ao deputado Eduardo Bolsonaro.
Segundo as regras da Câmara, a mudança do líder de um partido na Casa é oficializada com um documento direcionado ao presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e assinado pela maioria absoluta dos parlamentares da legenda. O PSL tem atualmente 53 deputados.
Assim, uma lista com 27 assinaturas foi protocolada na quarta-feira pela ala bolsonarista, pedindo a substituição de Waldir por Eduardo. Segundo a imprensa brasileira, Bolsonaro atuou pessoalmente para influenciar o processo.
Ainda na quarta, o filho do presidente chegou a se pronunciar como novo líder da bancada no Salão Verde da Câmara. Mas não durou muito: aliados de Bivar logo protocolaram outra lista pela manutenção de Waldir, essa com 32 assinaturas.
Como as duas listas somavam 59 assinaturas, e o PSL possui somente 53 deputados, a área técnica da Câmara precisou fazer uma conferência dos documentos. Nesta quinta, após a contagem dos nomes, a Casa validou a lista em apoio ao Delegado Waldir.
Segundo a Secretaria-Geral da Câmara, a lista da ala de Bivar possui 29 assinaturas válidas. Já a lista enviada pelos bolsonaristas tinha apenas 26 nomes que bateram com o cartão de assinaturas preenchido por cada deputado ao assumir o mandato. O grupo do presidente chegou a protocolar uma terceira lista, também com 27 assinaturas, mas só 24 foram validadas.
Assim, ficou valendo o documento apresentado pelos apoiadores de Waldir, já que era o único que continha assinaturas de mais da metade dos deputados do PSL. Para piorar a crise, foi vazado um áudio de Waldir afirmando que vai implodir o governo de Bolsonaro, em conversa gravada no gabinete do deputado na quarta-feira.
“Vou fazer o seguinte, eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo”, afirma Waldir no áudio, revelado pelo site R7.
Mais tarde, aos ser questionado sobre o áudio, Waldir recuou, afirmando que a declaração foi dada num “momento de emoção”. Ele disse não ter nada contra o presidente e que é possível “pacificar” a bancada do PSL, segundo noticiou o portal G1.
“Nós somos Bolsonaro. Nós somos que nem mulher traída. Apanha, não é? Mas mesmo assim ela volta ao aconchego”, afirmou. “Não tem nenhuma ruptura, não tem nenhuma perseguição, não tem nada.”