Pesquisadores propuseram um novo método para investigar o funcionamento interno das explosões das supernovas. O novo método recorre à análise de meteoritos e é o único que pode determinar o contributo dos antineutrinos de elétrons – partículas enigmáticas que não podem ser rastreadas de outra forma.
Há bilhões de anos, uma enorme estrela expeliu suas entranhas para o espaço. Naquele enorme momento energético, a chamada supernova de colapso do núcleo estelar formou uma nuvem de detritos de novos átomos, criados no calor da explosão.
Passado muito tempo, a nuvem acabou por se contrair atraída pela própria gravidade, dando origem a uma estrela – o Sol – cercada por pedaços de rocha e gás que deram origem aos planetas e a outros corpos em órbita. Muito depois, chegamos nós.
Basicamente, esta é a história da gênese do Sistema Solar. Há décadas que os cientistas analisam supernovas, no entanto, ainda restam muitas dúvidas relativamente ao que realmente acontece em uma explosão estelar. As supernovas são fenômenos que, para além de intensamente brilhantes, são fundamentais na evolução das estrelas e galáxias, mas os detalhes em que essas explosões ocorrem não são totalmente conhecidos.
Em um novo artigo, publicado nesta terça-feira nas Physical Review Letters, um grupo de cientistas propõe um novo método para responder a estas dúvidas.
Quando a estrela “velha” explodiu, uma partícula rara, a versão “fantasma” da antimatéria do neutrino – apelidada de “antineutrino do elétron” – explodiu e bateu na matéria circundante da supernova. Estas colisões produziram um isótopo do tecnécio (elemento químico com número atômico 43), chamado de 98Tc.
E, se os pesquisadores forem capazes de determinar qual a quantidade de 98Tc produzida e o que aconteceu ao isótopo, seriam também capazes de descrever a explosão da morte da estrela de forma muito mais detalhada.
A grande dificuldade relativamente ao isótopo é que, logo depois de ser criado, decai em um isótopo de rutênio (elemento químico com número atômico 44), chamado de 98Ru.
No entanto, os pesquisadores acreditam e propõem no artigo que os vestígios do 98Tc podem ser relativamente fáceis de identificar e medir a partir de meteoros que, por vezes, caem na Terra – já que essas rochas estão praticamente intocadas desde o nascimento do Sistema Solar.
Os cientistas calcularam ainda que os antineutrinos dos elétrons da supernova que originou o Sistema Solar podem ter produzido apenas o suficiente do isótopo 98Tc, de forma a que os produtos derivados do decaimento pudessem ser detectados em meteoros mesmo depois de milhões e milhões de anos.
Sinteticamente, a pesquisa, liderada por Takehito Hayakawa, encontrou um método para investigar o papel dos neutrinos de elétrons em supernovas. Desta forma, medindo a quantidade de 98Ru presente em meteoritos, pode ser possível estimar que a quantidade do “progenitor”, o 98Tc, estava presente no material que deu origem ao Sistema Solar.
Na última fase da vida, uma estrela massiva morre em uma explosão conhecida como supernova. O evento explode a maior parte da massa da estrela para o espaço exterior. Massa que é depois reciclada em novas estrelas e planetas, deixando assinaturas químicas distintas, que dão evidências aos cientistas sobre a supernova.
Os meteoritos – por vezes apelidados de estrelas cadentes – são formados a partir do material que sobrou do nascimento do Sistema Solar, preservando assim as assinaturas químicas originais.
Com paciência e uma medição cuidadosa, escreveram os cientistas, é possível medir com precisão estes traços. E com uma medição precisa, destacam, pode ser possível desvendar os segredos da enorme explosão que deu origem ao Sistema Solar e a (quase) todos os átomos que compõem o nosso corpo.
Ciberia // ZAP