Presidente do Peru renuncia após pressão das ruas e da classe política

Manuel Merino renunciou menos de uma semana após a sua posse, em uma das piores crises políticas do Peru em duas décadas. Mais cedo neste domingo, dez dos 18 ministros de Merino, cujo paradeiro era desconhecido esta manhã, haviam renunciado.

O líder do Congresso peruano e o prefeito de Lima exigiram então a “renúncia imediata” de Merino, após a violenta repressão a protestos contra seu governo, que deixou pelo menos três mortos e mais de 60 manifestantes feridos.

Pressionado a renunciar pela rua e pela classe política, o presidente interino do Peru, Manuel Merino, anunciou sua renúncia neste domingo, cinco dias após sua contestada ascensão à presidência do país. “Quero que todo o país ouça que apresento a minha demissão”, disse Manuel Merino num discurso transmitido pela televisão peruana, um dia após a violenta repressão aos manifestantes que exigiam a sua saída.

Cenas de alegria se espalharam imediatamente pelas ruas da capital, Lima.

O Parlamento peruano deve agora nomear um novo presidente entre seus membros, o terceiro em menos de uma semana após a destituição por esta mesma assembleia de Martín Vizcarra, presidente popular acusado de corrupção, o que atesta a fragilidade das instituições peruanas.

Uma sessão plenária foi convocada às 16h, hora local, para indicar um novo presidente que poderá ser do partido centrista Morado, o único que se opôs à demissão de Vizcarra.

Merino, de direita, disse que, para evitar um “vácuo de poder“, os 18 ministros que ele indicou na quinta-feira permanecerão em seus cargos temporariamente, embora a maioria tenha renunciado após a repressão aos protestos no sábado.

Pelo menos três pessoas foram mortas em Lima em outro dia de protestos reprimidos pela polícia. Os manifestantes, em sua maioria jovens, exigiram a renúncia de Merino, rejeitando o que consideram um golpe parlamentar.

O Parlamento votou na segunda-feira a destituição do muito popular presidente Martin Vizcarra, acusado de corrupção, e sua substituição por Merino, até então à frente do Parlamento e que havia nomeado um conservador como primeiro-ministro.

Depois de uma noite inteira de confrontos na capital, os líderes dos nove grupos parlamentares iniciaram uma reunião de emergência a portas fechadas pouco antes das 9h da manhã, por iniciativa do novo chefe do Parlamento, Luis Valdez, julgando ” insustentável “a situação política no Peru.

“Concordamos em exigir que o Presidente da República, Manuel Merino, renuncie à presidência do Peru”, anunciou Valdez pouco antes do discurso de Merino pela televisão, ameaçando iniciar procedimentos de demissão se não sair do poder.

Os pedidos de demissão se multiplicaram diante da situação explosiva no país com manifestações em várias cidades e milhares de pessoas se reuniram na capital. O prefeito de Lima, Jorge Muñoz, que pertence ao mesmo partido da Ação Popular de Merino, também exigiu sua renúncia.

“Peru acordou”

A nomeação para a presidência de Merino, um engenheiro agrícola de direita de 59 anos, gerou protestos em todo o país desde terça-feira.

O maior protesto reuniu milhares de pessoas em Lima no sábado, que convergiram para a Praça San Martin. A polícia voltou a usar gás lacrimogêneo, inclusive a partir de helicópteros, para dispersar os manifestantes que tentaram forçar bloqueios de estradas da polícia contra o Parlamento.

Entre eles, cartazes proclamavam: “Merino, você não é meu presidente“, “Merino impostor”, “O Peru despertou”.

A morte de um manifestante de 25 anos foi anunciada por Alberto Huerta, funcionário da Ouvidoria, órgão público responsável por zelar pelo respeito aos direitos humanos no Peru. O corpo foi levado ao hospital de Almenara, disse ele, acrescentando que “a vítima tinha feridas de chumbo no rosto e couro cabeludo, segundo o médico”.

De acordo com o Ministério da Saúde, pelo menos 63 manifestantes também ficaram feridos. A Defensoria do Povo denunciou o uso indiscriminado da força pela polícia.

Pouco depois, o arcebispo de Lima, Carlos Castillo, condenou a repressão policial ao anunciar na televisão pública que acabava de saber que havia “uma terceira morte”. O presidente da Conferência Episcopal, por sua vez, exortou o governo a dialogar e a respeitar o direito de manifestação.

// RFI

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