Raridade nórdica: pingentes de ouro de cerca de 1.500 anos são achados na Noruega

Elin Storbekk / Museu de História Cultural da UiO

Rituais eram reservados apenas aos mais privilegiados da sociedade, segundo pesquisadoras. Os pingentes são considerados um fenômeno escandinavo, mas a inspiração, porém, vem dos medalhões do Império Romano.

Os sete pingentes de ouro – conhecidos como bracteates – foram encontrados em um campo e perto de uma pequena colina na borda do campo. Se este local era de fato um lugar onde bracteates de ouro teriam sido sacrificadas, ele foi perturbado nos tempos modernos pela agricultura.

Exceto por uma montagem de artefatos de ouro que incluía uma bracteate que foi encontrada em More og Romsdal em 2014, já se passaram 70 anos desde que descobertas semelhantes foram feitas na Noruega. “Essas reservas votivas são incrivelmente raras”, escreveram as arqueólogas Jessica Leigh McGraw, Margrete Figenschou Simonsen e Magne Samdalem no blog forskning.no.

Elas são profissionais do Museu de História Cultural da UiO e acabaram de realizar uma escavação no local que revelou um total de cerca de 160 bracteates, enquanto, ao todo, cerca de apenas 900 desses pingentes são conhecidos. Eles são considerados um fenômeno escandinavo e, quando encontrados na Alemanha e no Reino Unido, presume-se que tenham sido importados para esses lugares.

A inspiração para os pingentes, porém, são os medalhões do Império Romano. “Na tradição caseira, o retrato do imperador foi substituído por deuses nórdicos e figuras de animais em estilo germânico”, escrevem os arqueólogos.

“As pessoas na Escandinávia se apropriaram de um item de status da cultura romana, deram a ele uma aparência nórdica e o tornaram próprio deles”, relatam no artigo no blog.

Animais, humanos, símbolos e runas

O nome bracteate é derivado do latim bractea – que significa um pedaço fino de metal. Os pingentes eram de um só lado, feitos de ouro e geralmente usados como joias. Eles também poderiam ser oferecidos como presentes votivos aos deuses, como sugerem os tesouros de bracteates de ouro.

Bracteates são classificadas de acordo com o que representam. As sete que foram encontradas recentemente em Rade, em Ostfold, são dos tipos C e D.

O tipo C representa cenas de uma pessoa nas costas de um animal semelhante a um cavalo, geralmente em combinação com pássaros, outros símbolos e runas. A característica dominante, no entanto, é uma grande cabeça humana com cabelos proeminentes.

Já bracteates D são estilisticamente diferentes das outras classificações e são consideradas as variantes mais novas, datando do século 6 d.C. Elas retratam vários animais altamente estilizados e podem ser muito difíceis de entender e interpretar hoje.

Agradando os deuses

As bracteates são do chamado período de migração, uma época de migrações generalizadas na Europa que ocorreram principalmente entre os séculos 4 a.C. e 6 d.C.

A Noruega tem descobertas ricas desse período em locais como fazendas, túmulos, fortalezas e achados perdidos. Itens importados do Império Romano, bem como cópias de símbolos de status antigos, mostram que a Noruega tinha laços culturais e econômicos com o continente, escreveram os arqueólogos em sua postagem no blog. Isso também é evidente nas bracteates de ouro.

“Não há dúvida de que se tratava de itens ligados a comunidades aristocráticas dentro de uma elite germânica na Escandinávia”, comentam as arqueólogas.

Nos anos 536-540 d.C., no entanto, uma série de erupções vulcânicas levou a espessas nuvens de cinzas que afetaram o clima, fenômeno conhecido como o inverno Fimbul na literatura nórdica. O sol não brilhou por mais de um ano, as colheitas fracassaram e as pessoas morreram de fome.

A teoria é de que nesta época as ofertas de ouro se tornaram maiores e mais numerosas, pois as pessoas podem ter sentido uma necessidade maior de tentar evitar os perigos e buscar proteção. “Os deuses precisavam ser agradados, e uma quantidade maior de ofertas de ouro pode ter acontecido”, sugerem.

Estudo em detalhes

As sete bracteates de ouro agora serão estudadas em detalhes no Museu de História Cultural da UiO, em Oslo. Algumas delas estão um pouco tortas e os motivos estão parcialmente escondidos. Usando tecnologia avançada, as arqueólogas esperam ser capazes de dizer algo sobre como os pingentes foram feitos, e talvez até por quem e onde.

Elas também vão comparar os bracteates recém-encontradas com as antigas descobertas. Isso pode nos dizer algo sobre as conexões entre as elites na Escandinávia ou no norte da Europa.

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