Um dos principais anúncios do presidente Emmanuel Macron sobre o fim da quarentena na França a partir de 11 de maio foi a reabertura das creches e escolas do ensino fundamental e médio de todo o país. Mas a medida, defendida pelo governo para evitar que as desigualdades de aprendizagem se aprofundem entre os alunos durante o isolamento, gera controvérsia nesta terça-feira.
As condições para a suspensão da quarentena na França, em vigor desde 17 de março, foram anunciadas por Emmanuel Macron no pronunciamento à nação nessa segunda-feira (13). Os franceses sairão do isolamento por etapas a partir de 11 de maio.
A generalização de testes, do uso de máscaras reutilizáveis, a volta ao trabalho e a continuação da quarentena para os idosos já eram esperadas. A medida que mais surpreendeu foi a decisão de retomar as aulas “progressivamente” no ensino fundamental e médio. As universidades continuarão fechadas até o início do próximo ano letivo, em setembro.
Os professores foram os primeiros a criticar a reabertura, já que as crianças podem ser vetores de transmissão do vírus. Entrevistada logo após o discurso do presidente, a secretária-geral do Snuipp-FSU, o principal sindicato de professores do ensino fundamental, Francette Popineau, disse à AFP que está preocupada.
“Sabemos que a escola é um lugar de grande transmissão e contaminação. A reabertura parece em contradição total com o restante das medidas”, disse Popineau.
O presidente da Federação dos Médicos da França, Jean-Paul Hamon, também está inquieto com o fim do confinamento nas escolas que, segundo ele, “traz um risco inútil“. Ele ressalta que as “crianças nem sempre obedecem às orientações, vão brincar juntas e levar o vírus para suas casas”.
O primeiro-secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, quer mais detalhes do governo para saber “como será possível proteger ao mesmo tempo alunos, pais e professores”.
Retorno progressivo
O ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, tentou em entrevista à TV France 2 nesta terça-feira tranquilizar pais, alunos, professores e a população em geral. Segundo ele, a volta às aulas será “progressiva” a partir de 11 de maio e não acontecerá no mesmo dia para todos.
O ministro informou que as modalidades de reabertura das escolas serão definidas nos próximos 15 dias. Ele antecipou que antes da retomada, todos os locais de ensino serão desinfetados, máscaras serão distribuídas a professores e alunos e que as famílias serão contatadas antes de 11 de maio para serem informadas. Provavelmente as classes serão menores.
Jean-Michel Blanquer reafirmou que o governo tomou a medida pensando nos “estudantes que enfrentam dificuldades”. Eles passarão a ser tratados com prioridade. Durante a quarentena, “cada criança ficou exclusivamente em seu contexto familiar e isso aprofundou terrivelmente as desigualdades”, lembrou o ministro. As escolas francesas estão fechadas desde 16 de março.
Apesar das declarações de Blanquer, os sindicatos de professores alertam que se no início de maio as condições sanitárias anunciadas pelo governo forem consideradas insuficientes, eles serão contrários à reabertura dos estabelecimentos escolares.
// RFI