O filme “Regra 34”, terceira longa-metragem da cineasta brasileira Julia Murat, foi o grande campeão do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, um dos mais importantes da Europa, conquistando o Leopardo de Ouro.
Outro brasileiro, Carlos Segundo, ficou com o prêmio de melhor curta-metragem autoral por “Big Bang”. O anúncio foi feito neste sábado (13) durante a cerimônia de encerramento do evento.
A cineasta Julia Murat conversou com a RFI sobre a participação do longa na competição. Na ocasião, Murat falou sobre as grandes expectativas para o festival.
“Eu estou nervosa. Apesar de ser o meu terceiro filme, o nervosismo não passa. E é um filme bastante arriscado no que ele se propõe, não tanto do ponto de vista de linguagem, porque eu optei por fazer uma linguagem muito simples, mas do ponto de vista temático. Eu estou apreensiva, digamos “, afirmou.
Em depoimento logo após a vitória, ela destacou que não acreditou quando foi informada sobre a conquista do prêmio. “Acho que a razão (de não ter acreditado) foi que o filme é bastante duro. É um filme que trata de temas difíceis, então eu nunca pensei que seria possível que mais de uma pessoa do júri o defenderia”, contou.
Ao agradecer a conquista, Murat lembrou que o último e único longa-metragem brasileiro a ganhar o Leopardo de Ouro foi “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, em 1967, época em que o país vivia sob o regime da ditadura militar.
A diretora também fez um apelo, comentando que espera “que este prêmio ajude a nossa sociedade a compreender que precisamos de defender a democracia, mas também a diferença e que temos de apoiar o diálogo”, em uma referência ao cenário turbulento no Brasil com a proximidade das eleições presidenciais.
“Regra 34” trata do desejo feminino
O filme conta a história da estudante Simone, que ganha dinheiro fazendo performances online de sexo para pagar a faculdade de direito. O título remete à chamada regra 34 da Internet, que afirma que tudo na web tem seu equivalente pornográfico, e questiona como manter o equilíbrio entre desejo, liberdade e proteção, tanto para os indivíduos quanto para a sociedade.
“O tesão, o desejo feminino é um tema pouco abordado em geral, mas a construção de personagem feminina a partir de sua subjetividade, tentando não responder a um registro clichê do que seria este corpo da mulher, está em voga no cinema brasileiro atual”, comentou Julia Murat.
“‘Regra 34’ traz o cinema brasileiro de volta ao esplendor anárquico do ‘cinema marginal’. Um trabalho ousado e político que pretende deixar uma marca. O corpo torna-se objeto político”, comentou a diretora artística do festival, Giona Nazzaro.
Além do Leopardo de Ouro, Murat, de 42 anos, foi premiada no Festival de Berlim, em 2017, por seu segundo filme, “Pendular”.
// RFI