A rivalidade entre irmãos costuma enlouquecer os pais. Mas, dependendo da forma que as brigas são contornadas, as desavenças podem ser construtivas e trazer vantagens no futuro.
Segundo a psicóloga infantil americana Linda Blair, a competitividade observada no núcleo familiar é um “treinamento perfeito” para a vida adulta, e uma oportunidade para as crianças exercitarem muitas habilidades importantes, como a negociação diplomática e a empatia.
“Devemos aplaudir em vez de ficar bravos quando crianças demonstram diferenças entre si, porque é a oportunidade ideal para lhes ensinar algo”, afirma Blair, que acaba de lançar o livro Siblings, “Irmãos”, sobre o relacionamento fraternal.
Em entrevista ao programa de rádio All in the Mind, da BBC, a psicóloga sugere que, em vez de separar os filhos ou pedir que fiquem quietos, os pais adotem uma abordagem que “vai levar mais tempo, mas será mais eficiente no longo prazo“.
“Peça que cada um conte ao outro sua queixa. E, a partir da idade que forem capazes de entender – crianças até três anos não serão – diga agora quero que você se coloque no lugar do seu irmão. Como você acha que ele está se sentindo?”
A especialista explica que, a partir deste exercício, as crianças começam a desenvolver empatia, capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se na situação dela.
“Ainda que, inicialmente, eles não consigam fazer bem esse exercício, vão melhorar com o tempo e aprenderão a coisa mais valiosa de todas, que é a empatia. É uma ferramenta tão poderosa que os pais vão conseguir contornar a briga e de um modo que as crianças se sentirão bem”, afirma Blair.
A educadora e escritora americana Signe Whitson também vê a relação entre irmãos como uma oportunidade para entender diferenças – seja de temperamentos, habilidades ou interesses.
Segundo a especialista, as fontes mais comuns de conflito são questões de justiça e de igualdade. Esse tipo de embate costuma surgir em situações que despertem ciúme – quando um ganha um presente e outro não, quando o mais velho pode dormir mais tarde que o mais novo, e por aí vai.
“Uma das lições mais importantes que irmãos que brigam aprenderão na vida familiar é que igualdade não significa justiça e justiça não exige igualdade“, diz Whitson em artigo publicado em um site de maternidade.
“Quando irmãos e irmãs percebem que muitos aspectos do relacionamento em família são totalmente desiguais, e ainda assim totalmente justos, eles se saem melhor em aceitar diferenças, em ir além do ciúme e superar conflitos destrutivos entre si.”
Linda Blair diz também que a intensidade da convivência entre irmãos na infância costuma ser determinante para o relacionamento que eles vão desenvolver na vida adulta.
“Foi um alívio para mim, como mãe, descobrir que não é o tom das emoções entre irmãos que ditará o relacionamento entre eles. Se seus filhos brigam como cães e gatos, isso significa provavelmente que eles serão bem próximos no futuro. Assim como se eles se dão muito bem mesmo quando a casa está desabando. O que importa é a intensidade com que eles se relacionam entre si.”
Ela sugere que os pais não cobrem de si mesmo a “perfeição” na criação dos filhos. “Se acertássemos sempre, os filhos seriam dependentes demais de nós, quando o nosso trabalho é justamente torná-los independentes. Faça o seu melhor, mas sabendo que não vai acertar sempre.”
// BBC