No domingo (1), milhares de russos protestaram contra a decisão do governo de aumentar a idade para a aposentadoria. Os protestos não decorreram, contudo, nas cidades anfitriãs da Copa 2018.
Apesar da chuva intensa, na praça principal da cidade de Tver, a cerca de 180 quilômetros de Moscou, quase 200 pessoas resistiram ao banho de verão para protestar contra o plano do governo russo de aumentar a idade para a aposentadoria. Um cenário que se fez sentir por todo o país.
“Acho que não vou chegar à idade para a aposentadoria”, disse Vasily ao Moscow Times, engenheiro de 50 anos. “Quero viajar e ver muitas coisas antes de morrer. Agora, estou com medo de trabalhar até morrer”, confessou.
Esse é o sentimento geral da população russa. Estipulada em 60 anos para os homens e 55 para as mulheres, há muito tempo que os economistas pedem que a idade para a aposentadoria seja aumentada. Apesar disso, as autoridades têm plena consciência de que a decisão pode desencadear uma tempestade na sociedade do país.
Em 2005, ano em que foram feitas grandes mudanças – uma série de benefícios foram convertidos em pagamentos em dinheiro – os protestos irromperam em massa e, na época, Vladimir Putin prometeu que a idade para a aposentadoria não seria aumentada, desde que continuasse na presidência.
Na véspera da Copa 2018, no dia 14 de junho, o primeiro-ministro Dmitry Medvedev contrariou a promessa de Putin e anunciou o aumento da idade: de 60 para 65 anos nos homens, e de 55 para 63 para as mulheres. O ambiente festivo, próprio da Copa do Mundo, iria diminuir o impacto das más notícias, esperavam as autoridades.
Mas parece não ter funcionado. Quase 2,6 milhões de pessoas já assinaram uma petição online contra a decisão e Putin sofreu uma queda acentuada no seu índice de popularidade. Além disso, os pedidos de protesto vieram de todo o espectro político do país.
Muitos dos protestos aconteceram no fim de semana passado, de Vladivostok (no Extremo Oriente) a Omsk (Sibéria). O principal objetivo das manifestações, disse Artyom Vazhenkov, representanto da Open Russia (que organizou o protesto em Tver), foi a demissão de Dmitry Medvedev.
Em ambiente de Copa, os protestantes, inclusive, vestiram camisetas vermelhas, nas quais estava escrito: “Um cartão vermelho para Medvedev“.
Mas, ainda que o movimento de protesto esteja no início, as divisões entre as diferentes partes envolvidas – que incluem as financiadas e apoiadas pelo próprio governo russo – já começam a ser visíveis.
Apesar disso, os sindicatos já anunciaram que vão continuar com as manifestações. Porém, se os protestos podem trazer mudanças efetivas é uma questão que fica no ar.
Ciberia // ZAP