Uma nova pesquisa, baseada nos antigos assentamentos das populações que viveram na Cordilheira dos Andes, revelou que esses povos sofreram mutações genéticas que lhes permitiram sobreviver em condições tão adversas.
De acordo com o novo estudo, publicado na semana passada na revista Science Advances, essas populações que viviam em territórios de altitude elevada foram modificando e adaptando seus organismos ao longos dos anos.
E foi graças a essas alterações genéticas – que incluem corações maiores e pressão arterial ligeiramente mais alta – que conseguiram resistir e sobreviver às condições adversas dos Andes, evitando também certas doenças.
“Apesar das duras condições ambientais, os Andes foram povoados relativamente cedo após a entrada no continente [sul-americano]. As características adaptativas necessárias para a ocupação permanente podem ter sido selecionadas por um período de tempo relativamente curto, na ordem dos milhares de anos“, pode-se ler na publicação.
Segundo o artigo, uma das mutações foi identificada foi no gene DST, que fez com que a anatomia dos corações da população dos Andes fosse mudando. A análise genética notou que os ventrículos direitos desse povo eram maiores se comparados a um coração normal, melhorando assim o fornecimento de sangue oxigenado.
Outro sinal de adaptação foi encontrado no gene MGAM (maltase-glucoamilase), uma enzima intestinal. Os ancestrais nos Andes, que habitaram essas terras altas há cerca de 7 mil anos, consumiam muito milho e batata – produtos tradicionalmente consumidos nessa região da América de Sul – e a evolução do MGAM permitiu-lhe fazer uma melhor digestão do amido.
A presença do MGAM produziu “uma mudança significativa na dieta” desse povo. Apesar de essas populações ingerirem muito amido, seus genomas não produziram cópias adicionais do gene da amilase, como aconteceu nas áreas rurais da Europa.
No que respeita ao sistema imunológico, os povos dos Andes mostraram também ser mais resistentes. Durante a epidemia de varíola na América Latina, causada pela chegada dos espanhóis, as taxas de mortalidade nos Andes foram entre 23% e 27%. No resto das Américas, as taxas de mortalidade ascenderam a 90%.
A análise genética, que analisou os vestígios mortais de vários ancestrais que viveram nos Andes, revelou que a adaptação foi o grande segredo para a prosperidade da população.
Ciberia // ZAP