Viver nas favelas do Rio de Janeiro é uma opção para os estrangeiros

Bruno Itan / Coletivo Alemão

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Viver em uma favela no Rio de Janeiro é uma opção que ganhou força nos últimos anos entre residentes estrangeiros que querem fugir dos preços exorbitantes dos aluguéis ou ficarem mais próximos da realidade carioca “mais autêntica”.

A “moda” de viver nas favelas cresceu a partir de 2008, quando começaram os processos de “pacificação” com a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas comunidades, especialmente na zona sul da cidade, em bairros como Botafogo, Copacabana e Ipanema.

A presença das UPPs não foi suficiente para eliminar a violência nas comunidades que, nos últimos meses, disparou. No entanto, os preços dos aluguéis, que em um bairro turístico como Copacabana chegam US$ 650 por um quarto em um apartamento compartilhado, contribuiu para o aumento da chegada de estrangeiros nas favelas.

Larissa Lourenço, que aluga um apartamento no morro Pavão-Pavãozinho, garantiu à Agência Efe que “muitos estrangeiros” têm buscado moradia na favela “pela localização e pelos preços, que são mais baixos”. “Está a cinco minutos a pé da praia de Copacabana e a dez minutos de Ipanema”, comentou a proprietária.

Seu apartamento, com dois quartos, banheiro, sala, cozinha americana e terraço, sem mobílias, custa R$ 900 reais por mês, praticamente a metade do preço médio de um quarto a apenas três ruas de distância.

Muito perto, no Cantagalo, que está ligado à Ipanema através de uma escada e de um elevador, Raphael Rodrigues aluga uma casa com um quarto, sala e cozinha por R$ 1.000. Raphael reconhece que “os tiroteios existem na favela”, mas “acontecem esporadicamente” e “o dia a dia é normal”.

O morador também adverte que, não obstante, “se alguém lhe pergunta o que está fazendo na favela, basta dizer que vive aqui de aluguel“.

Quando há um tiroteio durante a noite, as pessoas que chegam do trabalho esperam nas ruas que dão acesso à favela e, caso este ocorra pela manhã, esperam que termine para sair de casa”, acrescentou Raphael.

Para Joaquín, um estudante espanhol de 22 anos, o problema é muito mais grave, por isso ele deixou o morro Babilônia, que fica a apenas 200 metros da praia de Leme. “A coisa está ficando mais complicada”, relatou o jovem à Efe. “Se tornou costume ver os traficantes com armas e já ouvi vários tiroteios”, comentou Joaquín.

“Ninguém vai lhe assaltar”, mas o Babilônia compartilha sua entrada com o morro Chapéu-Mangueira, que “está sob controle de outra facção” e “é possível que você seja pego no meio de um tiroteio”, explicou o estudante espanhol.

Seu relato corrobora as conclusões dos últimos relatórios da polícia, que revelam um aumento exponencial, próximo de 12.000%, no número de tiroteios nas comunidades com UPPs, que passaram de 13 em 2011 para 1.555 no ano passado.

O aumento da violência nas favelas não é um fenômeno isolado nas comunidades: os homicídios dolosos no Rio de Janeiro chegaram a 502 em fevereiro deste ano, um número 24,3% maior que em fevereiro de 2016, o que equivale a 16 assassinatos por dia.

Para Marianne, uma francesa de 21 anos que vive no Vidigal, próximo do luxuoso bairro do Leblon, a violência não é um problema. “Viver em uma favela deixa você mais perto da autêntica vida carioca“, “longe dos preconceitos”, argumentou a jovem francesa.

A vida no Vidigal, a “favela da moda” no Rio, onde celebridades como David Beckham têm uma casa, é muito diferente das comunidades da zona norte da cidade e áreas como o Complexo de Alemão, que na última semana teve cinco dias de tiroteios que resultaram em cinco mortes.

Para Alfonso, espanhol de 21 anos que paga US$ 290 por mês por um quarto num apartamento compartilhado no Vidigal, “relacionar favela a criminosos é um clichê“. Alfonso desfruta de sua vida no Vidigal, que se estende em torno da ladeira de um morro sobre o Leblon e oferece uma vista espetacular do Rio de Janeiro.

Uma comunidade onde, em uma rápida pesquisa na internet, se pode encontrar um dúplex com dois dormitórios por R$ 8.100 de aluguel, um valor exorbitante para um país com salários médios de R$ 1.230 mensais.

// EFE

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