Uma equipe de arqueólogos conseguiu descobrir os aposentos da escrava Sally Hemings, que teria tido seis filhos de Thomas Jefferson, o terceiro presidente dos EUA.
As escavações realizadas na mansão de Thomas Jefferson em Monticello, a plantação que pertenceu ao terceiro presidente dos EUA, localizada em Charlottesville, na Virgínia, revelaram a divisão onde Sally Hemings (1773-1835) teria vivido com seus filhos.
Thomas Jefferson, uma das mais pragmáticas figuras da história dos Estados Unidos, foi um dos “Pais Fundadores” da Nação e o principal autor da Declaração da Independência. Foi o segundo vice-presidente norte-americano, com John Adams, a quem sucedeu como terceiro chefe de estado dos Estados Unidos.
Localizado ao lado do quarto de Jefferson, o espaço foi encontrado por baixo de uma casa de banho que foi construída em 1941, para dar resposta ao crescente número de visitantes turísticos à histórica plantação de escravos.
A divisão não tem janelas e era previsivelmente escura, úmida e desconfortável, embora se acredite que Sally Hemings teria um estatuto “privilegiado”, relativamente aos demais escravos da plantação.
A história da escrava que teria dado à luz seis filhos de Jefferson continua a ser um enigma e a descoberta ajuda a escrevê-la e a dar “um significado a como as pessoas escravas viviam”, conforme nota a diretora de restauração da plantação, Gardiner Hallock, em declarações divulgadas pela NBC News.
“Alguns dos filhos de Sally podem ter nascido neste quarto”, acrescenta Hallock.
A divisão mantém a lareira e a estrutura de tijolos originais, bem como o espaço para um fogão e os pisos primitivos dos anos de 1800, constituindo “uma verdadeira ligação para o passado”, afirma o diretor de arqueologia das escavações, Fraser Neiman, também em declarações à NBC.
O espaço será restaurado e transformado para homenagear Sally Hemings e integrar, de forma mais digna, sua história na plantação e na própria vida de Jefferson.
“Pela primeira vez, em Monticello, temos um espaço físico dedicado a Sally Hemings e à sua vida. É significativo porque liga todo o arco afroamericano em Monticello“, atesta a porta-voz do local, Mia Magruder Dammann, na NBC News.
A misteriosa vida de Sally Hemings
Thomas Jefferson é um dos mais simbólicos presidentes dos EUA, tendo sido o autor da Declaração de Independência. Mas foi também proprietário de cerca de 600 escravos ao longo da sua vida, embora se manifestasse moralmente contra a escravatura, que dizia ser uma “abominação”.
Ele teria ficado com o direito de propriedade de Sally Hemings no âmbito da herança do sogro, pela sua morte, em 1776. Diz-se também que Sally seria filha do sogro, John Wayles.
Na história quase não existem registros sobre esta mulher de quem um outro escravo, Isaac Granger Jefferson, dizia que era “poderosa perto dos brancos”, “muito bonita” e com “longos cabelos lisos pelas costas”.
Historiadores atribuem a paternidade dos seus seis filhos a Thomas Jefferson e um estudo de DNA divulgado em 1999, concluiu que o terceiro presidente dos EUA seria pai de, pelo menos, um deles. As crianças teriam nascido vários anos depois de Jefferson ter ficado viúvo de Martha Jefferson.
Nos jornais da época, chegaram a ser publicados artigos de rivais políticos, referindo o fato de Jefferson ter “como concubina” uma das suas escravas.
Jefferson teria mantido os filhos, dos quais apenas quatro teriam sobrevivido, como escravos até ficarem maiores de idade, época em que os teria libertado. E nunca teria dado a liberdade a Sally Hemings.
Estas e outras histórias sobre o terceiro presidente dos EUA passam pelo Projeto Mountaintop, um investimento de 35 milhões de dólares (mais de R$ 110 milhões) que visa restaurar a plantação de Monticello para que ela fique exatamente como era no tempo da escravatura.
A ideia é revelar toda a história do local, não apenas a do presidente dos EUA e da sua família, mas também dos escravos que lá viveram.
// ZAP