O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abriu nesta terça-feira (9) as portas para a negociação de uma reforma, dividida em duas fases, que resolva a situação dos 11 milhões de imigrantes ilegais no país. A primeira trata da situação dos chamados “sonhadores” e da destinação de recursos para a construção de um muro na fronteira com o México.
Em reunião com congressistas republicanos e democratas na Casa Branca, que pôde ser acompanhada por jornalistas, Trump defendeu as duas etapas da reforma. A primeira lei traria quatro de suas prioridades de campanha e a segunda, mais ampla, teria como objetivo resolver outros problemas do sistema migratório do país.
“A [reforma migratória] integral será a fase dois. Aprovaremos a primeira e depois entraremos com a integral no dia seguinte. Eu assumo a (carga) política, não me importa”, afirmou.
Essa foi a resposta dada pelo presidente a uma pergunta feita pelo senador republicano Lindsey Graham, que pediu que Trump aproveitasse a oportunidade para ir além de solucionar o problema dos milhares de jovens sem documentos no país, o grupo chamado de “sonhadores” (dreamers, em inglês), e concedesse cidadania americana a todos os que vivem ilegalmente no país.
Trump não esclareceu, no entanto, se apoia a ampliação da medida para os 11 milhões de imigrantes ilegais, uma proposta que poderia irritar sua base eleitoral, que aprovou o discurso anti-imigração do presidente na campanha de 2016.
Durante a entrevista coletiva diária, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, evitou esclarecer a postura do presidente, ao afirmar que o tema ainda não está sendo negociado com o Congresso.
Segundo Sarah, na reunião, que teve a presença de cerca de 25 congressistas, foi firmado acordo para negociar uma reforma migratória, o que representa a primeira fase do projeto.
O primeiro projeto de lei focaria em quatro áreas: uma substituição do Programa de Ação Diferida para os Chegados na Infância (Daca) para os sonhadores, medidas de segurança na fronteira, o combate à migração em cadeia, que permite que alguns imigrantes facilitem a entrada de familiares no país e o fim da chamada “loteria de vistos”.
O Daca, encerrado por Trump em setembro, foi implementado por Barack Obama em 2012 e protegia da deportação cerca de 690 mil jovens que chegaram aos EUA ainda crianças. Esse grupo é conhecido como “sonhadores”.
Os vistos que garantiam a permanência de muitos deles no país perderam a validade desde setembro, deixando-os expostos à deportação se o Congresso não aprovar uma solução permanente para substituir o Daca antes de 5 de março, data limite imposta por Trump.
A oposição democrata quer aprovar o mais rápido possível uma lei que proteja os “sonhadores” da deportação e vinculou a discussão do tema às negociações para aprovar o orçamento do governo federal, que devem ser concluídas até 19 de janeiro.
Trump, porém, condicionou qualquer projeto para substituir o Daca a uma série de exigências, entre elas a aprovação de recursos para a construção de um muro na fronteira com o México e o fim da chamada “loteria de vistos”, que anualmente beneficia cidadãos de países com baixa taxa de imigrantes nos EUA.
O presidente reforçou que uma mudança do Daca deve incluir “segurança na fronteira”, que para ele é sinônimo de recursos para a construção do muro com o México. A Casa Branca pediu US$ 18 bilhões para a obra, que duraria cerca de uma década. “Gostaria de não construir o muro, mas precisamos dele”, disse.
A exigência dificulta a negociação, já que o financiamento do muro é inaceitável para os democratas, que deixaram claro que o único objetivo do partido continua sendo a substituição do Daca.
“Os republicanos expuseram suas quatro prioridades, e os democratas mostraram a nossa: o Dream Act, um projeto de lei que regularizaria a situação dos ‘sonhadores'”, disse em comunicado o senador democrata Dick Durbin, que participou do encontro com Trump.
O inédito acesso que a imprensa teve à negociação entre Trump e os congressistas faz parte, segundo vários veículos, de uma estratégia da Casa Branca para pôr fim às especulações sobre a estabilidade mental do presidente.
Ciberia // EFE