Carnaval sem purpurina parece não fazer sentido. Mas o brilho indispensável para essa época do ano parece não ser tão inofensivo como pensávamos.
Depois de uma rede de creches britânicas ter proibido o uso de purpurina e glitter, foram várias as entidades que se pronunciaram a favor de um proibição mundial – e algumas empresas estão, inclusive, apresentando propostas biodegradáveis.
“Estamos falando de microplásticos, partículas inferiores a cinco milímetros. A única maneira de saírem do corpo é no banho e não há nada que as retenha. Vão parar nos oceanos, assim como aquelas que são atiradas ao ar”, explicou ao Diário de Notícias (DN) a bióloga marinha Carla Rodrigues Lourenço.
Carla é responsável pela Straw Patrol, um projeto de sensibilização ambiental, que alerta para a problemática da poluição marinha.
Também Carla Graça, vice-presidente da Zero (Associação Sistema Terrestre Sustentável), disse ao jornal que, como a purpurina se trata de “produtos fúteis”, deveriam ser banidas. “Não vemos qualquer utilidade em usar um produto tóxico, com consequências muito negativas para o meio ambiente e à saúde pública“.
A vice-presidente da associação defende as opções reutilizáveis ou com “garantia de biodegradabilidade e segurança em termos de toxicidade”.
Segundo Carla Lourenço, a purpurina e o glitter – que já têm químicos na composição – absorvem os poluentes da água do mar quando chegam aos oceanos e acabam sendo ingeridos pelos organismos menores, como o zooplâncton. “A partir daí, vão escalando, acabando por entrar na alimentação humana”, explica ao DN.
É assim que microplásticos chegam aos pratos das pessoas. “Isto não é raro”, refere a especialista, afirmando que um estudo recente demonstrou que um em cada cinco peixes com interesse comercial tem microplásticos no estômago.
Além das consequências destas partículas na saúde do ser humano – como mudanças no nível hormonal que podem levar ao desenvolvimento de doenças – as estações de tratamento de águas residuais “não estão preparadas para tratar estes microplásticos”, destaca Carla Graça.
Há empresas que medem prós e contras e tentam arranjar alternativas, desenvolvendo purpurina e glitter biodegradáveis. O Diário de Notícias dá o exemplo das marcas brasileiras Viva Purpurina Biodegradável e a Glitter Ecológico, que comercializam produtos não tóxicos, que não prejudicam os ecossistemas.
No entanto, Carla Lourenço destaca que o problema não se resume ao glitter que usamos frequentemente no Carnaval: “há muita empresa cosmética que usa microplásticos”. Em 2015, os EUA proibiram o uso destas pequenas partículas de plástico em cosmética e produtos de higiene, como géis de banho, esfoliantes e maquiagem.
Primeiro, foram alguns estados nos EUA em 2015, e depois o Reino Unido, este ano.
Ciberia // ZAP