A primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou ser “muito provável que a Rússia seja responsável” pelo envenenamento do ex-espião russo e da filha, Yulia, em declaração no parlamento britânico, em Londres.
Diante dos parlamentares britânicos, Theresa May destacou que a substância utilizada contra o ex-espião e a filha, que ataca o sistema nervoso, é “de qualidade militar” desenvolvida pela Rússia.
Além de ter considerado “altamente provável” que o envenenamento do ex-agente duplo russo tenha autoria russa, a chefe do executivo britânico o classificou como um ataque “cego e imprudente contra o Reino Unido”.
Para a governante, só existem dois cenários possíveis: tratou-se ou de “um ataque cirúrgico” do Estado russo, ou de uma “perda de controle” da substância química pelas autoridades russas.
Na intervenção, a premiê britânica deu um prazo a Moscou, até esta terça-feira (13), para fornecer explicações à Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
Em caso de ausência de uma resposta “credível”, o executivo britânico considerará que “a ação constitui um uso ilegal da força pelo Estado russo contra o Reino Unido”, acrescentou a primeira-ministra.
May recordou que o envenenamento se inscreve “num contexto bem definido de agressão levada a cabo pelo Estado russo”, referindo o conflito em Donbass, a “anexação ilegal da Crimeia”, as “repetidas” violações do espaço aéreo de vários países europeus, campanhas de ciberespionagem, bem como “o ataque bárbaro” a Alexandre Litvinenko, antigo agente secreto russo envenenado com Polónio-210 e morto em Londres, em 2006.
Lembrando que as sanções adotadas contra cidadãos russos após o caso Litvinenko “continuam em vigor”, a chefe do governo britânico se declarou “pronta para tomar medidas mais fortes“, referindo-se à presença de tropas britânicas estacionadas na Estônia, no âmbito de um destacamento da Otan.
“Espetáculo circense”, acusa Kremlin
A Rússia já reagiu às acusações. “É um espetáculo circense no parlamento britânico. As conclusões são claras: uma nova campanha de propaganda informativa assente em provocações”, declarou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, também afirmou que o Kremlin só irá responder quando o Reino Unido “cumprir suas obrigações”, quando entregar uma amostra da substância que supostamente foi usada.
O “Reino Unido, como bem deve saber a primeira-ministra e seu ministro das Relações Exteriores, é membro, da mesma forma que a Rússia, da Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas”, disse Lavrov. Por isso, assim que teve a suspeita do uso de uma substância proibida, “teria que ter se dirigido imediatamente ao país de onde se suspeita que procede a substância”.
Enquanto isso, o Ministério das Relações Exteriores russo convocou nesta terça o embaixador do Reino Unido em Moscou. Nesta segunda-feira (12), o embaixador russo no Reino Unido também foi chamado ao Ministério das Relações Exteriores em Londres.
“Agente nervoso muito raro”
Serguei Skripal, de 66 anos, e a filha Yulia, de 33 anos, foram encontrados inconscientes no dia 4 de março, num banco de um centro comercial em Salisbury, no sul da Inglaterra.
Na quarta-feira seguinte, o chefe da polícia antiterrorista britânica, Mark Rowley, revelou que o ex-agente duplo russo e a filha tinham sido vítimas de um ataque deliberado com um agente que ataca o sistema nervoso.
Os dois permanecem hospitalizados na unidade de terapia intensiva, em “estado crítico, mas estável”. Um dos primeiros agentes da polícia a chegar ao local também está internado “em estado grave, mas estável”.
Skripal é um ex-coronel dos Serviços de Inteligência da Rússia que foi recrutado pelos serviços secretos britânicos em 1995. A troco de dinheiro, o agente forneceu ao Reino Unido a identidade de vários espiões russos que operavam na Europa, bem como outras informações militares russas, destaca a BBC.
Em 2006, Skripal foi condenado na Rússia, mas, posteriormente, foi alvo de uma troca de espiões levada a cabo entre as autoridades russas, norte-americanas e britânicas. Foi, nessa época que se mudou para a Inglaterra.