O Ministro das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, disse que Putin pretendia utilizar a Copa do Mundo de Futebol, que este ano será realizada na Rússia, para promover o país, assim como aconteceu com os Jogos Olímpicos de 1936, quando Hitler governava a Alemanha.
De acordo com o Diário de Notícias, quem considerou a comparação apropriada foi Boris Johnson, ministro das Relações Exteriores: “Sim, penso que a comparação com 1936 está correta”.
Boris Johnson demonstrou ainda preocupação com a segurança dos adeptos ingleses que viajem à Rússia e com a capacidade da embaixada britânica e dos serviços consulares em protegê-los, uma vez que não pode impedir os ingleses de estarem presentes na competição.
A conversa surgiu após a discussão sobre o envenenamento do ex-agente duplo russo Sergei Skripal, na cidade inglesa de Salisbury, no início do mês.
O chefe da diplomacia britânica, Boris Johnson, afirmou também que a “cadeia de comando” no caso do envenenamento do ex-espião Serguei Skripal conduz diretamente ao Kremlin, acrescentando que o ataque foi ordenado para ajudar a reeleição de Vladimir Putin.
“Como vimos no assassinato de Alexander Litvinenko – um ex-agente secreto russo envenenado com polonium-210 e que morreu em Londres em 2006 –, a cadeia de comando destes assassinatos e de vários outros conduz inevitavelmente ao Kremlin“, afirmou o ministro britânico, que compareceu diante da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Comuns, a câmara baixa do parlamento britânico.
“O caminho, a cadeia de comando, parece ir até o Estado russo e até os que estão no poder”, disse o ministro das Relações Exteriores britânico, relembrando que no ataque foi utilizado um agente neurotóxico identificado como Novichok, cuja fabricação remonta à época da União Soviética.
Para o chefe da diplomacia britânica, o caso Skripal pretendeu enviar uma mensagem a possíveis desertores russos, mas também ajudar na reeleição de Putin nas eleições presidenciais de domingo passado.
“Em primeiro lugar, acho que o presidente Putin ou o Estado russo quiseram enviar um sinal a possíveis desertores das próprias agências, é isso que acontece se decidirem apoiar um país com valores diferentes, como é o nosso”, referiu.
E acrescentou que o caso também está relacionado com as recentes eleições russas, nas quais Vladimir Putin foi reeleito presidente da Rússia com 76,67% dos votos.
“Como muitas figuras antidemocráticas quando enfrentam uma eleição ou um momento político crítico, é tentador colocar na imaginação da opinião pública a ideia de um inimigo”, prosseguiu. “Isto é o que acho que aconteceu, foi uma tentativa de agitar o eleitorado russo”, reforçou Boris Johnson.
Segundo o ministro das Relações Exteriores britânico, a Rússia cometeu o ataque com um agente neurotóxico em solo britânico por que Londres “tem denunciado repetidamente” os “abusos” de Moscou.
“Penso que a razão pela qual assumiram o Reino Unido como alvo é muito simples: é um país que tem um sentido muito apurado de valores, acredita na liberdade, na democracia e no Estado de Direito e que denunciou repetidamente os abusos russos desses valores”, disse ainda o representante na comissão parlamentar.
Ainda nesta quinta-feira (22), a embaixada britânica em Moscou acusou a Rússia de “continuar a espalhar mentiras e desinformação” em vez de explicar o envenenamento do ex-espião russo.
“Não recebemos nenhuma explicação credível sobre o motivo pelo qual um agente neurotóxico produzido na Rússia foi utilizado em solo britânico. Em vez de fornecer respostas, a Rússia continua a espalhar mentiras e desinformação”, escreveu a representante diplomática do Reino Unido na capital russa, no Twitter.
A mensagem foi publicada após uma reunião no Ministério das Relações Exteriores russo, que convocou os embaixadores baseados em Moscou para transmitir sua posição em relação ao caso Skripal. O embaixador britânico na Rússia não participou da reunião.
O caso tem causado um clima de forte tensão entre a Rússia e o Reino Unido. Londres anunciou a suspensão de contatos bilaterais de alto nível com Moscou e a expulsão de 23 diplomatas russos do Reino Unido.
Em resposta, Moscou também anunciou a expulsão de 23 diplomatas britânicos e o fim das atividades do British Council na Rússia.