Cientistas em Portugal e na Austrália defendem, como cenário provável, a formação de um novo supercontinente, a que deram o nome Aurica, dentro de 300 milhões de anos, em resultado do fecho simultâneo dos oceanos Atlântico e Pacífico.
O cenário, traçado com base em modelos computacionais, cálculos matemáticos, evidências e na história geológica da Terra, é sustentado pelos geólogos João Duarte e Filipe Rosas, do Instituto Dom Luiz e do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em Portugal, e Wouter Schellart, da Universidade de Monash, na Austrália.
Os resultados do estudo foram publicados na edição digital da Geological Magazine.
Ciclicamente, ao longo da História da Terra, a cada 500 milhões de anos, os oceanos se fecham e os continentes se juntam, formando um supercontinente.
Há 200 milhões de anos, quando os dinossauros habitavam a Terra, todos os continentes estavam reunidos num supercontinente, a Pangeia, em que a América do Sul estava ligada à África.
No novo supercontinente, apresentado pelos três pesquisadores, o núcleo é formado pela Austrália e pela América, que estão ligadas, daí o nome Aurica atribuído (‘Au’ de Austrália e ‘rica’ de América).
A hipótese da formação de um supercontinente, a partir do fecho simultâneo dos oceanos Atlântico e Pacífico, se baseia na “evidência de que novas zonas de subducção estão se propagando no Atlântico”, refere a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em comunicado.
As zonas de subducção – os locais onde uma placa tectônica mergulha sob a outra – são requisitos para os oceanos fecharem.
“Para fechar os oceanos, é necessário que as margens dos continentes se transformem em margens ativas, se formem novas zonas de subducção”, esclareceu à Lusa o geólogo João Duarte.
O Pacífico, explicou, “está rodeado de zonas de subducção”, especificamente próximo do Japão, do Alasca (Estados Unidos) e da região dos Andes (América do Sul).
As zonas de subducção “se propagam de um oceano para o outro, do Pacífico para o Atlântico”, sublinhou.
No Atlântico, já existem duas zonas de subducção totalmente desenvolvidas: o Arco da Escócia e o Arco das Pequenas Antilhas.
A fraturação da Euroásia
Uma nova zona de subducção poderá estar se formando ao largo da margem sudoeste ibérica, que inclui território português.
Segundo João Duarte, a chamada Falha de Marquês de Pombal, localizada ao largo do Cabo de São Vicente, no Algarve, e apontada como “uma das possíveis fontes do sismo de 1755”, em Lisboa, está “marcando o início dessa nova zona de subducção”.
Hipóteses anteriores, de outros cientistas, sugerem a formação de um novo supercontinente a partir do fecho de um dos oceanos, do Atlântico ou do Pacífico.
O geólogo português, e pesquisador principal no estudo, lembra que, no passado, dois oceanos tiveram que se fechar para dar origem a um supercontinente.
João Duarte advogou que manter o Pacífico ou o Atlântico aberto significa que um dos dois oceanos vai perdurar para lá da sua ‘esperança de vida’, cifrada em 200 a 300 milhões de anos.
“Isso é contraditório com a história, a geologia da Terra. Os oceanos não vivem mais do que 200 ou 300 milhões de anos”, frisou.
O pesquisador acrescentou outro dado para sustentar sua tese: a da fraturação da Euroásia (Europa e Ásia).
De acordo com João Duarte, o Oceano Índico “está abrindo” na Euroásia e existem novos rifts (fissuras da superfície terrestre causadas pelo afastamento e consequente abatimento de partes da crosta) que “estão se propagando para norte”.
A cadeia montanhosa dos Himalaias, a Índia e o interior da Euroásia correspondem a “uma zona de ruptura, onde as placas tectônicas vão se quebrar num futuro”, permitindo “quebrar ao meio” a Euroásia, cenário possível dentro de 20 milhões de anos, admitiu.
Para o cientista, a fratura da Euroásia vai possibilitar o fecho dos oceanos Atlântico e Pacífico.
João Duarte e restante equipe querem, agora, testar “até à exaustão”, com modelos computacionais mais avançados, o cenário “muito provável” que avançaram.
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