A maternidade tardia na China parece ter se tornado a última esperança de sustento na velhice para muitos casais, que chegam mesmo a arriscar a saúde depois dos 60 anos.
Zhang Heng perdeu o filho de 34 anos em um acidente de trânsito e sua vontade de viver. O desgosto, aliado à perspectiva de sobreviver sem a ajuda financeira do filho, levou a chinesa e o marido à adoção, plano que acabou por fracassar.
Sem esperança no futuro, a mulher, de 67 anos, viajou juntamente com o marido até Taiwan e investiu 200 mil ienes, aproximadamente R$ 112 mil, em um tratamento de fertilização in vitro.
A esperança se transformou em gêmeos, mas o futuro acabaria por traí-la: Zhang foi diagnosticada com com hipertensão gestacional e aconselhada a interromper a gravidez.
Segundo a revista portuguesa Visão, o caso foi notificado às autoridades de saúde. Zhang ficou perplexa: “Por que me tratam como uma criminosa? Eu não estou infringindo a lei, até porque não há nenhuma lei na China que proíba idosas de terem filhos.”
De um lado, um casal ansioso por ter os filhos; do outro, uma comunidade médica relutante em fazer o acompanhamento pré-natal da gravidez e do parto, devido aos riscos elevados de complicação para a saúde da mãe e dos bebês. Com 11 semanas e meia de gravidez, Zhang Heng é a gestante mais velha da China.
Ao South China Morning Post, a mulher confessou não entender a razão pela qual querem impedir a solução encontrada pelo casal, de quem “ninguém quis saber quando ficaram sem o filho”.
“Não sou rica, estou preparada para ter uma criança a meu cargo e acredito que posso viver até os 85 anos e ver a criança crescer e se tornar adulta. Se isso não acontecer, “meu sobrinho, que tem 40 anos, pode ajudar a criá-la, porque ter um filho é tudo para mim”, disse.
De acordo com a lei do país, desde 2016, os casais podem ter direito a serem pais duas vezes. Mas, neste cenário, como fica a situação de todos aqueles que perderam o único descendente?
Além da experiência traumática, perder um filho significa também chegar à fase final da vida e receber um subsídio estatal mensal de 340 ienes, o equivalente a pouco menos de R$ 190, um verdadeiro pesadelo para muitos casais que tentam evitá-lo, fazendo tudo o que estiver ao alcance para sobreviver.
Na China moderna, mulheres mais velhas que arriscam a saúde em prol de uma vida e de uma velhice mais digna começa a ser uma cenário cada vez mais normal. Resta saber como será a vida dos filhos nascidos, que, nesta história, foram os únicos a não dar opinião.
Ciberia // ZAP