Imagine poder almoçar tranquilamente num restaurante ou fazer compras enquanto deixa o seu bebê no carrinho, estacionado do lado de fora na calçada. Essa cena, que faz parte do cotidiano dos dinamarqueses, só é possível graças a um atributo básico daquela sociedade: a confiança.
É por essa e outras características que o país continua no topo do ranking dos países mais íntegros do mundo, conforme o relatório da Transparência Internacional de 2019, divulgado nesta quinta-feira (23).
A RFI investigou porque o país escandinavo de 5,603 milhões de pessoas é um exemplo entre os 180 analisados no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), com 87 pontos.
O ranking é calculado numa escala de 0 a 100 e quanto menor a nota, maior é a percepção da corrupção no país. Os pesquisadores internacionais levam em consideração 13 fontes de dados do mundo empresarial e de instituições como o Banco Central e o Fórum Econômico Mundial.
“Temos muitas instituições internacionais e uma mídia livre e independente”, explica Natasha Linn Félix, chefe do Conselho da Transparência Internacional da Dinamarca, que trabalha como voluntária da ONG.
“O aumento dos salários e aposentadorias dos funcionários públicos também teve um grande impacto no combate à corrupção no país, já que assim os servidores não precisam roubar ou se corromper”, completa. “Mas o curioso sobre confiança é que leva anos para construir, mas pode desabar muito rapidamente”, alerta.
Dois terços dos 180 países tiveram pontuação abaixo de 50 e o índice médio foi de 43. O país nórdico da Europa setentrional, composto por uma grande península e 443 ilhas, ficou a frente de Nova Zelândia, Finlândia e Singapura.
Títulos para se orgulhar
“Países como a Dinamarca e a Suécia têm um histórico longo de democracia e tiveram a oportunidade de consolidar os seus estudos e as suas leis para garantir o acesso à informação aos cidadãos e mecanismos de controle”, explica Guilherme France, coordenador de pesquisa da Transparência Internacional do Brasil.
“Existe um nível de confiança em relação à atuação dos funcionários públicos e do governo, o que acaba se refletindo em práticas administrativas mais probas”, completa.
Com uma economia mista capitalista e um estado de bem-estar social, a Dinamarca orgulha-se de ostentar o mais alto nível de igualdade de riqueza do mundo e o menor índice de desigualdade social, além de ser apontada como um dos países mais felizes.
“Educação e cultura são importantes na sociedade e garantidos pela independência dos setores públicos”, afirma Natasha Linn Félix. “Contudo, vemos uma mudança porque isso vem sendo cada vez mais politizado”, lamenta.
// RFI