Diante dos mais de 284 mil infecções do novo coronavírus (SARS-CoV-2), pesquisadores do mundo todo se unem em busca de um medicamento para pacientes da COVID-19.
Agora, um estudo francês publicado no International Journal of Antimicrobial Agents encontrou evidências de que a combinação da hidroxicloroquina (um popular medicamento para a malária, lúpus e artrite reumatoide) com o antibiótico azitromicina poderia ser, especialmente, eficaz no tratamento da doença, reduzindo o tempo de vida do vírus.
O médico e diretor-executivo da operadora de saúde brasileira Prevent Senior, Pedro Batista Junior, afirmou que essa combinação de medicamento já é usada, no Brasil, para o tratamento de um único paciente da rede.
De acordo com entrevista na CNN Brasil, o paciente diagnosticado com o novo coronavírus estava evoluindo, com sintomas graves, quando a própria família solicitou o tratamento específico.
Atualmente, a operadora de saúde, Prevent Senior trabalha com dois hospitais exclusivos para tratamento de pacientes com COVID-19 ou suspeita da doença. Até quinta-feira (19), eram 123 pacientes tratados com o protocolo da COVID-19 e já tinha registrado cinco óbitos por causa da infeção respiratória. De acordo com o diretor-executivo, “nós temos um caso [do novo tratamento para COVID-19], de uma família que solicitou.”
A combinação do antibiótico e o remédio contra a malária “é um tratamento off-label [nesse caso, a indicação do profissional se difere do que consta na bula], a medicação já é utilizada no Brasil há 30 anos, e nos EUA também está sendo feito o tratamento. O serviço de Saúde de Massachusetts tem os protocolos que estão sendo realizados, e os primeiros resultados têm se mostrado bem satisfatórios”, explica Pedro Batista Junior.
Inclusive, Batista afirma que nos últimos dois dias o paciente teve melhora de seu quadro. No entanto, “a medicação não tem ainda evidência técnica no Brasil, de que pode ser empregada no tratamento da doença. Ela deve ser indicada com auxílio de equipe médica, avaliando os riscos e os benefícios para cada paciente”, comenta o diretor-executivo.
“Conseguimos 24 mil doses de hidroxicloroquina e mais doses de azitromicina, e todos os pacientes com situação adequada de tratamento [diagnóstico confirmado para COVID-19]”, indicados pela equipe médica, terão possibilidade iniciá-lo”, comenta.
Os pesquisadores franceses realizaram um estudo em 30 pacientes confirmados para COVID-19, dividindo-os em três grupos. O primeiro era medicado apenas com hidroxicloroquina, o outro com uma combinação do medicamento com o antibiótico e o terceiro não recebeu nenhum desses medicamentos (grupo controle).
Os resultados mostraram que, embora a hidroxicloroquina fosse eficaz por si só como tratamento, quando combinada com azitromicina era ainda mais eficiente em margem significativa. Mesmo que esses resultados representam um estudo limitado, com um pequeno número de pacientes, são promissores.
A pesquisa foi realizada após relatos de tratamento de pacientes chineses que indicaram que essa combinação específica teve eficácia em reduzir a duração da infecção nos portadores do vírus, e o mesmo procedimento é testado nos Estados Unidos.
O Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta declarou que o governo validava a hidroxicloroquina e a azitromicina para o tratamento do novo coronavírus e que essa combinação era administrada para pacientes graves. “Nós estávamos participando do estudo, já validamos. Temos capacidade de produção, já estamos produzindo e está na prateleira dos pacientes graves”, afirmou Mandetta, durante coletiva com o presidente Jair Bolsonaro.
Após receber relatos de que a procura pela hidroxicloroquina aumentou, depois que algumas pesquisas que indicavam que o produto poderia ajudar no tratamento da COVID-19, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) enquadrou a hidroxicloroquina e a azitromicina como medicamentos de controle especial. Isso significa que o medicamento só poderá ser entregue mediante receita branca especial, em duas vias, prescrita por um médico.
A nova medida busca evitar que pessoas que não precisam desses medicamentos provoquem um desabastecimento no mercado, deixando pacientes com malária, lúpus e artrite reumatoide sem os tratamentos adequados. A Anvisa também afirma: “Apesar de alguns resultados promissores, não há nenhuma conclusão sobre o benefício do medicamento no tratamento do novo coronavírus”.
O novo tratamento para a COVID-19 também não é consenso entre os cientistas, como esclarece a presidente do IQC (Instituto Questão de Ciência), Natalia Pasternak, que é também pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
“Utilizar drogas já aprovadas por agências de controle, como a FDA, dos Estados Unidos, e a ANVISA, para tratar outras doenças é uma estratégia útil, uma vez que o medicamento já passou por testes demorados e rigorosos para demonstrar que seu uso em seres humanos é seguro. No entanto, no caso atual, o fato de um medicamento ser capaz de matar o coronavírus no laboratório não garante que funcionará contra o vírus já instalado no corpo humano”, argumenta Pasternak.
“Sabonete e álcool gel destroem o vírus na superfície da pele, por exemplo, mas beber sabão líquido ou tomar cachaça não vai curar ninguém da COVID-19. Para avaliar se o medicamento funciona no interior do organismo humano, outros testes — em voluntários humanos — são necessários e demandam tempo, critério científico e seriedade, e devem ser feitos com o rigor necessário, que nos permita tirar conclusões e não gerar mais dúvidas”, conclui a pesquisadora.
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