Alberto Morante / EPA

Maior estudo brasileiro já realizado sobre o efeito do medicamento promovido pelo governo Bolsonaro também apontou que uso pode aumentar risco de arritmia cardíaca e lesão do fígado.
Um amplo estudo liderado pelos principais hospitais privados do Brasil apontou que a hidroxicloroquina não tem eficácia no tratamento de pacientes internados com quadros leves ou moderados de covid-19. As conclusões foram publicadas nesta quinta-feira (23/07) no The New England Journal of Medicine.
Segundo o estudo, a administração da hidroxicloroquina, combinada ou não com o antibiótico azitromicina, não melhorou as condições de pacientes com coronavírus.
Os autores ainda verificaram que os pacientes que utilizaram os medicamentos tinham uma tendência maior a apresentar alterações nos exames de eletrocardiograma, apontando arritmia, e de sangue, indicando o risco de lesão hepática.
O estudo analisou 667 pacientes com quadros leves ou moderados em 55 hospitais brasileiros. O estudo foi coordenado por oito instituições: Hospital Albert Einstein, Sírio-Libanês, HCor, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa, além do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, esse é o maior estudo com a hidroxicloroquina feito até agora no Brasil.
Os participantes do estudo tinham cerca de 50 anos e foram selecionados no máximo dois dias antes do início da pesquisa. Destes, 58% eram do sexo masculino. Entre os avaliados, 40% eram hipertensos; 21%, diabéticos, e 17%, obesos.
Os 667 foram divididos em três grupos, por meio de sorteio. Destes, 271 receberam uma combinação de hidroxicloroquina e azitromicina. Outros 221 receberam apenas hidroxicloroquina. Os últimos 227 pacientes foram selecionados como grupo controle, não recebendo nenhum dos medicamentos, apenas atendimento clínico.
Segundo o estudo, os pacientes receberam as medicações por sete dias e foram acompanhados por duas semanas. Ao final, 665 pacientes tiveram seus casos analisados pelo estudo (dois foram excluídos).
De acordo com o estudo, no grupo tratado com hidroxicloroquina combinada com azitromicina, 69% dos pacientes haviam recebido alta e estavam em casa sem sequelas ao final das duas semanas.
Já no grupo que não usou nenhuma das medicações, o índice foi de 68%. Entre aqueles que tomaram apenas hidroxicloroquina, 64% receberam alta nesse período de duas semanas. O número de óbitos também foi parecido nos três grupos: cerca de 3%.
“Não observamos diferenças na evolução dos pacientes dos três grupos. Neste perfil de paciente, portanto, a utilização da hidroxicloroquina não promove uma melhora no estado clínico”, explicou ao jornal O Estado de S.Paulo a cardiologista Viviane C.Veiga, coordenadora de UTI da Beneficência Portuguesa de São Paulo e uma das pesquisadoras do estudo.
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