O vazamento de dados do Ashley Madison continua dando o que falar. Já não é novidade que eram falsos muitos dos perfis femininos presentes no serviço que prometia facilitar que seus usuários tivessem casos extraconjugais; mas um artigo publicado no Gizmodo na última quarta-feira, 26, revelou que o caso é ainda mais surpreendente.
Uma análise mais profunda das informações vazadas pela equipe hacker Impact Team mostrou que pouquíssimas das pessoas identificadas como mulheres eram, de fato, usuárias reais do serviço.
Para chegar a essa conclusão, a editora-chefe do Gizmondo, Annalee Newitz, investigou dados como e-mails registrados e endereços de IP.
Primeiro ela descobriu que cerca de dez mil dos e-mails cadastrados terminavam com o domínio “ashleymadison.com” – um claro indício de que os perfis seriam fakes, já que é de se imaginar que nenhum usuário do serviço utilizaria um e-mail do Ashley Madison.
Não bastasse isso, vários dos e-mails pareciam criados por robôs: o que dizer de endereços como 100@ashleymadison.com, 200@ashleymadison.com e 300@ashleymadison.com?
Segundo o artigo, mais de 9 mil desses endereços eram usados por perfis femininos, enquanto apenas mil eram de perfis masculinos.
Depois, foram analisados os endereços IP dos usuários cadastrados, e 80,8 mil deles indicavam para computadores utilizados no escritório de Ashley Madison. Destes, mais de 68 mil eram de perfis femininos.
Outros campos de dados nos relatórios vazados mostram se havia atividade genuína nos perfis cadastrados. Um deles, <mail_last_time>, indicava se um usuário checou seu inbox e quando havia sido a última vez.
Do total de inscritos, mais de 20,2 milhões de homens checaram o correio em algum momento, mas apenas 1,4 mil mulheres abriram a caixa de entrada ao longo de toda a história do site.
O campo <chat_last_time> indicava se o usuário cadastrado havia usado o sistema de chat: enquanto 11 milhões de homens já haviam usado o bate-papo, apenas 2,4 mil mulheres o haviam feito.
Por fim, o campo <paid_delete> mostrava os usuários que pagaram para deletar suas contas e para que as informações pessoais fossem apagadas dos servidores da empresa.
Enquanto 173,8 mil homens desembolsaram US$ 19 para sair do serviço, apenas 12,1 mil mulheres o fizeram. E o pior é que os dados cadastrais nunca eram realmente apagados.
A enorme desproporção entre ações masculinas e femininas não chega nem perto de corresponder ao comportamento esperado de um público que, segundo o anunciado pelo próprio site, era composto por cerca de 85% de homens e 15% de mulheres.
O artigo do Gizmodo conclui que, provavelmente, menos de 1% dos perfis femininos era utilizado por pessoas reais – não descartando ainda a possibilidade de que vários desses possam ter sido criados por homens se passando por mulheres.
Passando a régua, o que havia era o seguinte: a probabilidade de um homem conseguir um caso real usando o Ashley Madison era ínfima; sem saber, seus usuários botavam seus relacionamentos em risco apenas pela fantasia de ter uma relação extraconjugal nunca alcançada (não ali, pelo menos).
Por fim, os que se arrependiam e pagavam para ter seus dados deletados ainda eram vítimas de fraude, já que o cadastro continuava lá.
Mesmo assim, as autoridades continuam com a versão de que os vilões do caso são os hackers.
E a Avid Life Media, empresa por trás do Ashley Madison, já anunciou que poderá dar até 500 mil dólares canadenses (cerca de R$ 1,3 milhão) para quem contribuir com informações que possam levar a polícia de Toronto a identificar e prender os integrantes do Impact Team.