Um em cada três brasileiros culpa a mulher em casos de estupro

Dima Bushkov / Flickr

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Um terço da população brasileira consideram a vítima culpada pelo estupro, concordando que “a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”. O dado consta de pesquisa feita pela Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Divulgado essa quarta-feira (21), o levantamento mostra ainda que 42% dos homens e 32% das mulheres entrevistados concordam com a afirmação: “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”.

O percentual dos que concordam que a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada “não varia entre homens e mulheres (30%), o que significa que, para um terço dos brasileiros, a mulher que é agredida sexualmente é, de alguma forma, culpada pela agressão sofrida se opta por usar certas peças de roupa”, diz o levantamento.

“Trata-se de um déficit civilizatório do Brasil ter tantas pessoas que vinculam a vitimização da mulher a uma conduta moral”, diz Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do FBSP.

De acordo com a pesquisa, os graus de concordância variaram mais em função da idade e escolaridade. Os grupos que mais se afastam da média são as pessoas com 60 anos ou mais, com 46% de concordância e, no lado oposto, as pessoas com ensino superior, em que a discordância chegou a 82%.

“Aqueles mais jovens e com mais educação melhoraram sua compreensão sobre o papel da mulher na sociedade”, avalia Wânia Pasinato, da ONU Mulheres.

O levantamento mostra também que 65% da população tem medo de sofrer violência sexual. “O percentual cresce quando desagregamos o dado por sexo, já que 85% das mulheres brasileiras afirmam ter medo ante 46% dos homens”.

O papel da educação no combate às agressões sexuais é reconhecido por 91% dos entrevistados, que dizem ser possível “ensinar meninos a não estuprar”.

A Datafolha fez 3.625 entrevistas com pessoas a partir de 16 anos de idade, em 217 municípios. A coleta de dados foi feita entre os dias 1º e 5 de agosto deste ano. A margem de erro é 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

#EuNãoMereçoSerEstuprada

No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, segundo registros oficiais, totalizando quase 50 mil crimes do tipo ao ano. Estimativas apontam, no entanto, que apenas 10% dessas agressões sexuais sejam registradas, o que sugere uma cifra oculta de até 500 mil estupros anuais.

De acordo com dados do SUS (Sistema Único de Saúde), em 70% dos casos de estupro, a vítima é uma criança ou adolescente.

Em 2014, pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que 65,1% dos brasileiros acreditavam que mulheres que mostram o corpo “merecem ser atacadas”.

O dado, depois corrigido para 26%, provocou uma enxurrada de manifestações e uma campanha em que mulheres e homens expuseram seus corpos em fotos acompanhadas da hashtag #EuNãoMereçoSerEstuprada.

“Os dados da nova pesquisa mostram um cenário ainda pior que aquele apresentado pelo Ipea”, avalia Nana Queiroz, idealizadora da campanha e diretora da revista AzMina. “Não me surpreende que o percentual de concordância com a frase [30%] seja igual entre homens e mulheres. A cultura do estupro é tão arraigada que acaba sendo reproduzida também por mulheres.”

Na mesma tônica, quando mais de um terço dos brasileiros declararam acreditar que “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”, isso reitera a ideia de controle do comportamento e do corpo da mulher.

AF, Ciberia com Agência Brasil e Agência Patrícia Galvão

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