O Tribunal Especial das Nações Unidas para o Líbano (TSL) declarou culpado nesta terça-feira (18) Salim Ayyash, suposto membro do Hezbollah, pelo assassinato em 2005 do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri. Após um julgamento de seis anos, os outros três acusados foram absolvidos.
“A câmara de primeira instância declara Salim Ayyash culpado, além de qualquer dúvida razoável, como co-autor do homicídio intencional de Rafic Hariri”, declarou o juiz que presidiu o julgamento, David Re. Outros três suspeitos, Hassan Habib Merhi, Hussein Oneissi e Assad Sabra, foram declarados “inocentes”.
Segundo o juiz David Re, Ayyash, que corre o risco de ser condenado à prisão perpétua, teve um papel central na realização do ataque. “Ele tinha a intenção de matar o senhor Hariri e tinha o conhecimento necessário sobre as circunstâncias do assassinato, especialmente sobre o fato de que explosivos deveriam ser utilizados”, reiterou.
Após ter ouvido mais de 300 testemunhas e examinado mais de 3.000 evidências, os magistrados concluíram que não havia provas suficientes para condenar os outros três suspeitos. Mas, ao final de seis anos de julgamento, “nós esperamos sinceramente que o veredito de hoje permita que vocês realizem o luto”, declarou o juiz David Re.
Logo depois do pronunciamento dos magistrados, o filho de Rafic Hariri, o também ex-primeiro-ministro Saad Hariri, reagiu. “O tribunal decidiu, e em nome da família do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, e em nome dos mártires e vítimas, nós aceitamos a decisão do tribunal”, afirmou a jornalistas.
O veredito pode acentuar ainda mais as divisões de uma sociedade libanesa polarizada. O país enfrenta uma crise econômica sem precedentes, aumento de casos de Covid-19 e as consequências do desastre de 4 de agosto.
O assassinato do ex-premiê e bilionário sunita, pelo qual quatro generais libaneses foram inicialmente acusados, desencadeou na época uma onda de protestos que forçou a retirada das tropas sírias do Líbano, após 30 anos de ocupação.
Nenhuma evidência de envolvimento do Hezbollah
Mais cedo, os juízes do Tribunal Especial das Nações Unidas para o Líbano haviam declarado que não há qualquer evidência de envolvimento da direção do Hezbollah, o movimento xiita libanês, no atentado com uma caminhonete-bomba que matou o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri e outras 21 pessoas, em 14 de fevereiro de 2005, em Beirute.
O tribunal considerou que a Síria e o Hezbollah poderiam ter razões para eliminar Hariri e seus aliados políticos. “No entanto, não há evidências de qualquer implicação da liderança do Hezbollah no assassinato (…), tampouco evidência direta de um envolvimento da Síria”, disse o juiz David Re, durante a leitura da decisão do tribunal.
Os réus, todos membros do grupo armado xiita Hezbollah, financiado pelo Irã, foram julgados à revelia. O movimento xiita, que sempre negou qualquer envolvimento no ataque, se opôs a entregar os suspeitos, apesar de vários mandados de prisão expedidos pelo TSL.
Este tribunal, estabelecido em 2007 após uma resolução do Conselho de Segurança da ONU a pedido do Líbano, “tem sido altamente questionado desde a sua criação” e representou um custo de “vários milhões de dólares” para o Estado libanês, disse há alguns dias Karim Bitar, professor de Relações Internacionais em Paris e Beirute.
A divulgação do veredito estava prevista para o dia 7 de agosto, mas foi adiada devido à explosão do dia 4 na capital libanesa.
Homicídio doloso
Premiê libanês até sua renúncia, em 2004, Hariri foi morto em fevereiro de 2005, quando um homem detonou uma caminhonete-bomba durante a passagem de sua comitiva blindada. O ataque deixou 22 mortos e 256 feridos.
Salim Ayyash, 50 anos, foi acusado de “homicídio doloso” e de ter liderado a equipe que cometeu o ataque. Outros dois homens – Hussein Oneisi, 46 anos, e Asad Sabra, 43 anos, filmaram um vídeo que reivindicava a autoria do crime em nome de um grupo fictício. O último réu, Hassan Habib Merhi, 52 anos, enfrentou várias acusações, incluindo cumplicidade em um ato terrorista e conspiração para cometê-lo.
Mustafa Badreddin, o principal suspeito e apresentado como o “cérebro” do atentado, não pôde ser julgado por ter morrido alguns anos após os eventos.
// RFI