Como todos sabemos, a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) mutilou o faturamento das bilheterias de cinema neste ano e, embora muitas companhias tivessem a esperança de que as coisas voltassem a como eram antes, várias delas já notaram que é preciso se adaptar ao “novo normal”.
Isso implica em rever modelos de negócios que seriam impensáveis há alguns anos, como a estreia simultânea de um blockbuster no streaming — que vem sendo chamado de “lançamento híbrido”.
Inicialmente, a ideia, claro, desagradou as grandes redes de salas de exibição, a exemplo da AMC. Mas após a reabertura parcial em todo o mundo, o mercado pôde sentir um pouco como diferentes estratégias de distribuição funcionam atualmente.
Enquanto Tenet, da Warner, estreou somente nos cinemas, Mulan, da Disney, foi oferecido no modelo híbrido. Esta opção aparentemente foi mais rentável, porque a Warner já anunciou que Mulher-Maravilha 1984 será lançado desta forma, assim como todos as suas grandes atrações de 2021 — o que inclui a nova versão de Duna e Matrix 4.
O que surpreende nessa história é que, recentemente, a líder do setor estadunidense AMC passou a apoiar essa iniciativa, contrariando sua postura inicial.
A rede Cinemark, considerada a terceira maior dos Estados Unidos, até agora não comentava qual seria sua estratégia e reagiu aos planos da Warner de lançar tudo híbrido em 2021.
Segundo o Deadline, representantes do Cinemark disseram que “à luz do ambiente operacional atual, estamos tomando decisões de reserva de curto prazo, filme por filme. No momento, a Warner Bros não forneceu quaisquer detalhes para o modelo de distribuição híbrida de seus filmes de 2021”.
Mas como a AMC ficou amiguinha do streaming?
Bem, quando a Warner anunciou Mulher-Maravilha 1984 no modelo híbrido, muitos achavam que seria somente um caso isolado, em resposta ao cenário atípico por conta da crise de COVID-19 — especialmente em tempos de férias e de Natal. Contudo, como dá para notar, pode ser que essa distribuição tenha vindo para ficar. E por que a AMC mudou de postura repentinamente?
Neste ano, mais de 60% dos cinemas nos Estados Unidos tiveram que fechar as portas novamente com a segunda onda da COVID-19. Os que permaneceram abertos estão à beira da falência. Para ter uma ideia, a AMC, maior rede ianque, chegou a colocar à venda quase 200 milhões de ações, em um esforço de levantar até US$ 834 milhões para manter os negócios funcionando.
Sabendo dessa situação crítica, a Warner seduziu a AMC com a generosa oferta de até 60% do total da bilheteria de Mulher-Maravilha 1984. Em média, esse repasse normalmente é de 52,5% e, embora a fatia a mais pareça pequena, lembre-se que estamos falando de longas com receitas que podem chegar a US$ 1 bilhão e o momento não é dos melhores para o setor. Ou seja, é pegar ou largar.
Em acordos anteriores, os estúdios só podiam colocar uma estreia em plataformas premium de vídeo sob demanda após 17 dias do lançamento no cinema. E os que geravam bilheteria de pelo menos US$ 50 milhões na primeira semana ficavam 31 dias exclusivamente nas salas de exibição.
Tradicionalmente, as novidades chegam às principais plataformas digitais na forma de locação ou venda entre 75 e 90 dias após seu fim de semana de abertura.
Warner tem boa munição de lançamentos para 2021
A nova versão de Duna é altamente aguardada pelos fãs de ficção científica, em especial os seguidores da franquia de Frank Herbert, com um longa que tem o toque do diretor sensação Denis Villeneuve (Blade Runner). Matrix 4 terá o elenco original de volta e ganha ainda mais com o aumento de popularidade de Keanu Reeves nos últimos anos.
Além desses carros-chefe, a Warner tem no calendário a adaptação do musical In the Heights, de Lin-Manuel Miranda, e o derivado de Sopranos que conta histórias anteriores à série original, The Many Saints of Newark. Coloque nesta lista o bombado The Suicide Squad, de James Gunn; The Little Things, thriller com Denzel Washington; e o drama biográfico Judas and the Black Messiah.
Para completar, o 2021 da Warner ainda tem uma nova versão de Tom e Jerry, Godzilla vs. Kong, Mortal Kombat, Those Who Wish Me Dead (neo-western com Angelina Jolie), mais um filme da série Invocação do Mal, a sequência de Space Jam, Reminiscence (sci-fi com Hugh Jackman), Malignant (terror de James Wan) e o drama esportivo King Richard.
Quem mais vai ganhar com essa estratégia é o HBO Max, que vem sendo impulsionado pela WarnerMedia e pelos próprios figurões da AT&T, que vêm reformulando seus grupos (leia-se demissões) e juntando para verba para injetar na plataforma de streaming. Além das produções próprias, como o Snyder Cut da Liga da Justiça, o serviço agora ganha o reforço de peso das estreias da Warner Bros para tentar desbancar a Netflix.
“Depois de considerar todas as opções disponíveis e o estado projetado da ida ao cinema ao longo de 2021, chegamos à conclusão de que esta era a melhor maneira para o setor da WarnerMedia navegar nos próximos 12 meses. Mais importante, estamos planejando trazer aos consumidores 17 filmes notáveis ao longo do ano, dando a eles a escolha e o poder de decidir como desejam assistir a esses filmes. Nosso conteúdo é extremamente valioso, a menos que esteja em uma prateleira sem ser visto por ninguém. Acreditamos que essa abordagem atende nossos fãs, apóia expositores e cineastas e aprimora a experiência da HBO Max, criando valor para todos”, disse CEO da WarnerMedia, Jason Kilar, à Variety.
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