Após países da Europa suspenderem uso da vacina da AstraZeneca, Agência Europeia de Medicamentos reitera que não há indícios de que imunizante tenha causado coágulos, mas que casos estão sendo investigados.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) afirmou nesta terça-feira (16/03) que os benefícios de tomar a vacina para covid-19 desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford superam os riscos de eventuais efeitos colaterais.
A declaração foi dada após diversos países europeus suspenderem o uso do imunizante por causa de relatos de formação de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas, atrapalhando ainda mais os esforços de vacinação na Europa, em meio a dificuldades logísticas e resistência de parte da população.
A diretora executiva da EMA, Emer Cooke, afirmou que um comitê de cientistas está analisando os casos de coágulos e que ainda não há resultados conclusivos. Segundo ela, o comitê vai se reunir na quinta-feira para chegar a uma conclusão e assessorar a EMA.
Cooke ressalvou, porém, que situações como essas não são inesperadas quando milhões de pessoas são vacinadas e que os casos de coágulos sanguíneos ocorreram em um número muito pequeno de pessoas vacinadas.
Segundo a AstraZeneca, houve 37 relatos de coágulos sanguíneos entre as mais de 17 milhões de pessoas que receberam a chamada vacina de Oxford na União Europeia e no Reino Unido. “Isto é muito menos do que seria esperado ocorrer naturalmente numa população em geral deste tamanho e é similar ao verificado com outras vacinas contra covid-19 licenciadas”, afirmou a empresa anglo-sueca.
Cooke também ressaltou que o número de casos observados entre as pessoas vacinadas não parece ser maior do que o visto entre a população em geral. Milhares de pessoas desenvolvem coágulos sanguíneos na União Europeia todos os anos, pelos mais variados motivos, apontou.
“No momento, não há indícios de que a vacinação tenha causado esses casos. Nos estudos clínicos, tanto as pessoas vacinadas como as que receberam placebo apresentaram um pequeno número de casos de formação de coágulos sanguíneos”, disse. “Temos dados clínicos que mostram segurança e eficácia em grandes populações […] Continuamos convencidos de que os benefícios superam os riscos.”
A diretora da EMA também descartou que possa haver um problema num lote específico da vacina, já que, segundo ela, “à medida em que mais casos são relatados, há mais lotes envolvidos”. Porém, ela disse que os temores estão sendo levados a sério e que será feita uma análise científica séria e detalhada.
Além de Alemanha e França, Itália, Espanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Holanda, Islândia, a Irlanda e a Bulgária também suspenderam o uso do imunizante. A Áustria parou de usar doses de um lote da AstraZeneca na semana passada depois que uma mulher morreu por trombose múltipla após ser vacinada. Estônia, Letônia, Lituânia, Luxemburgo e Romênia também suspenderam o uso do mesmo lote de 1 milhão de doses, enviadas para 17 países da UE.
OMS e especialistas defendem vacina
Além da EMA e da própria AstraZeneca, a Organização Mundial da Saúde (OMS) defendeu o uso da vacina de Oxford. Na última sexta-feira, a OMS afirmou que “não há razão para deixar de usar” o imunizante.
A agência de medicamentos do Reino Unido também afirmou na segunda-feira que as evidências “não sugerem” que a vacina de Oxford provoca coágulos sanguíneos e pediu que as pessoas continuem a se vacinar.
Médicos e especialistas em saúde pública da Europa criticaram a decisão de suspender o uso da vacina, reiterando que estudos clínicos e a vacinação de milhões de pessoas no Reino Unido mostraram que o imunizante é seguro, e que não há indícios de relação causal entre a vacina e coágulos.
Dificuldades na Europa e no Brasil
A vacina da AstraZeneca foi aprovada para uso na União Europeia no final de janeiro, porém vem enfrentando dificuldades. Inicialmente, houve dúvidas sobre sua eficácia em pessoas com 65 anos ou mais, depois sanadas com a divulgação de um novo conjunto de dados de ensaios clínicos. O bloco comprou 400 milhões de doses da vacina, mas a farmacêutica foi forçada a reduzir as entregas previstas devido a problemas de produção.
No Brasil, a vacina de Oxford foi a principal aposta feita pelo governo do presidente Jair Bolsonaro para imunizar sua população, por meio de um acordo assinado em julho de 2020 entre a AstraZeneca e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A previsão inicial da Fiocruz era entregar 30 milhões de doses ainda em 2020, o que não se confirmou. Houve atrasos na importação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) da China. e as primeiras doses do imunizante vieram prontas da Índia e foram aplicadas em brasileiros apenas em 23 janeiro deste ano.
Em seguida, um problema no equipamento da Fiocruz que coloca lacres de alumínio nas vacinas novamente atrasou o cronograma. A fundação espera entregar nesta semana o primeiro lote da vacina produzida no Brasil, com 1 milhão de doses, e em seguida elevar o ritmo de entrega.
Por esse motivo, cerca de 80% das doses de vacinas contra a covid-19 aplicadas no Brasil até agora são da chinesa Coronavac, produzida em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, segundo cálculo da Rede Análise Covid-19.