A ativista do clima sueca Greta Thunberg anunciou nesta segunda-feira (19/04) que a fundação que leva seu nome doará 100 mil euros ao consórcio Covax Facility, um programa apoiado pelas Nações Unidas que visa um acesso mais igualitário às vacinas contra a covid-19 no mundo.
A doação à Organização Mundial da Saúde (OMS), que gerencia o consórcio, apoiará a compra de doses de imunizantes a serem destinados a populações mais vulneráveis e profissionais de saúde em alguns dos países mais pobres do mundo.
“A comunidade internacional deve fazer mais para enfrentar a tragédia que é a desigualdade das vacinas”, disse a jovem de 18 anos, citada em um comunicado da OMS.
“Temos os meios à nossa disposição para corrigir o grande desequilíbrio que existe atualmente em todo o mundo na luta contra a covid-19. Tal como na crise climática, devemos ajudar primeiro aqueles que são os mais vulneráveis.”
Mais tarde, em coletiva de imprensa ao lado do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, Greta reforçou seu pedido de solidariedade aos países que já vacinaram seus grupos de risco, de modo que compartilhem doses com outros países antes de vacinar seus grupos menos vulneráveis.
“É o mais razoável que pode ser feito. É preciso proteger, priorizar os mais vulneráveis e os que trabalham na linha de frente, não importa o país em que estão”, disse a ativista, que mora em Estocolmo. “Claro que quero voltar a ter uma vida normal [e ser vacinada], e todo mundo que eu conheço quer o mesmo, mas precisamos agir com solidariedade.”
Em média, uma em cada quatro pessoas já foi vacinada contra o coronavírus nos países desenvolvidos até o momento, enquanto nos países mais pobres apenas uma em cada 500 pessoas recebeu doses do imunizante, informou a OMS.
A atitude de Greta rendeu elogios de Tedros, que agradeceu à jovem pela iniciativa. “Greta Thunberg inspirou milhões de pessoas em todo o mundo a tomar medidas para enfrentar a crise climática, e seu forte apoio à igualdade das vacinas para combater a pandemia de covid-19 demonstra mais uma vez seu compromisso em tornar nosso mundo um lugar mais saudável, seguro e justo para todos”, disse o chefe da OMS.
“Exorto a comunidade global a seguir o exemplo de Greta e fazer o que puder, em apoio ao Covax, para proteger as pessoas mais vulneráveis do mundo contra esta pandemia.”
Segundo a OMS, a doação de 100 mil euros da Fundação Greta Thunberg será possível graças a prêmios que a organização recebeu por sua luta contra as mudanças climáticas.
Crise climática e crítica a Bolsonaro
Durante a coletiva de imprensa da OMS, a ativista voltou a reforçar seu apoio à luta contra a crise climática. Segundo ela, é muito provável que a humanidade venha a enfrentar novas pandemias se não mudar sua forma de agir em relação à natureza, lembrando que 75% das novas doenças chegam aos humanos por meio dos animais. “Não podemos separar a crise sanitária da crise climática”, declarou.
Em relação à cúpula sobre mudanças climáticas que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, realizará nesta semana, a jovem afirmou que podem se fazer conferências e belos discursos, mas o que é preciso mesmo é começar a tratar a crise do clima como uma crise.
Greta foi questionada também sobre a conduta do presidente Jair Bolsonaro em relação ao meio ambiente e à pandemia, temas sobre os quais o líder brasileiro vem sendo bastante rechaçado pela comunidade internacional.
A jovem respondeu que prefere não falar de indivíduos específicos, mas acabou afirmando que Bolsonaro “falhou em tomar responsabilidades para preservar as condições de vida atuais e futuras da humanidade”.
Covax Facility
O consórcio é uma iniciativa da OMS junto à aliança de vacinas Gavi e a Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi). Ele visa garantir que as 92 economias mais pobres participantes do projeto tenham acesso a imunizantes contra a covid-19 com o custo coberto por doadores.
Desde que a primeira remessa desembarcou em Gana em 24 de fevereiro, o Covax já entregou mais de 39 milhões de doses a 114 territórios participantes.
Com a meta de vacinar 27% da população dos 92 países mais pobres até o fim do ano, o consórcio lançou um pedido por 2 bilhões de dólares extras em doações, afirmando precisar da quantia adiantada para reservar as doses de vacina necessárias para o resto do ano.
Cerca de 400 milhões de dólares foram arrecadados em uma conferência de doadores na última quinta-feira, enquanto o primeiro-ministro
japonês, Yoshihide Suga, sediará uma cúpula de financiamento do Covax focada nos 92 países em junho.O Brasil integra o consórcio e, por meio dele, deverá receber um total de 10,5 milhões de doses. Em março, o Covax enviou ao país 1 milhão de doses do imunizante da AstraZeneca-Oxford, cujos lotes foram fabricados na Coreia do Sul pelo laboratório BK Bioscience.
Em maio, deverão chegar mais 4 milhões de doses, segundo o Ministério da Saúde brasileiro. A pasta não informou qual a previsão para o restante dos 5,5 milhões de doses que o Brasil ainda tem a receber no âmbito do Covax.