O jornal econômico Les Echos estampa em sua primeira página desta quinta-feira (16) uma notícia, ainda no condicional, que se concretizaria durante a madrugada: “A Austrália desiste de uma encomenda de 12 submarinos franceses e opta por um vasto acordo militar com os Estados Unidos.”
O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, confirmou que vai comprar mísseis de cruzeiro de longo alcance Tomahawk dos Estados Unidos para fortalecer suas defesas militares diante de uma China em expansão.
Morrison confirmou que este acordo marca o abandono do contrato de US$ 66 bilhões assinado com a França para a construção de doze submarinos de propulsão diesel e elétrica, baseados no modelo do “Barracuda”, da marinha francesa.
A encomenda foi celebrada em 2016 pelo então presidente Francois Hollande e o ministro da Defesa Jean-Yves Le Drian. Depois de uma licitação intensa, a francesa Naval Group saiu como ganhadora, derrotando ofertas do Japão e da Alemanha.
A imprensa australiana já anunciava que Morrisson estava prestes a mudar o rumo do barco diante da intensa pressão da administração Biden. O governo americano quer colocar em ação um vasto acordo de cooperação militar entre americanos, australianos e britânicos.
O acordo trilateral, chamado de AUUKUS, iniciais em inglês dos três países envolvidos, inclui um alinhamento das tecnologias em inteligência artificial, no campo cibernético e em sistemas de submarinos e mísseis. Tudo isso para levantar uma frente contra a China. “Até então, o governo australiano tentou manter ruma certa independência e neutralidade no espaço entre os oceanos Índico e Pacífico”, escreve o jornal francês.
Golpe duro
Segundo o Les Echos, o golpe é duro para o francês Naval Group. Apesar de a empresa ter sido paga pelos estudos e pesquisas desde 2016, o grupo ainda esperava, no começo da semana, a assinatura para uma nova fase do contrato.
O canteiro de obras no sul da Austrália já tinha sido iniciado e a empresa francesa mantinha uma equipe de mais de 300 empregados no local. Os franceses tinham acabado de anunciar também um contrato de mais de um bilhão de dólares com empresas terceirizadas.
O posicionamento australiano muda posições no xadrez geopolítico mundial. A princípio, segundo análise do Les Echos, uma invasão chinesa é uma hipótese muito distante. China e Austrália mantêm relações amistosas. A China é o maior importador da Austrália, que fornece matérias primas essenciais a Pequim.
“Mas não é totalmente absurda a hipótese de Camberra se ver presa em um conflito entre Pequim e países ocidentais, em seguida a uma invasão de Taiwan, por exemplo”, explica o analista de Les Echos. Segundo uma pesquisa recente, 42% dos australianos julgam possível que um dia a China ataque o pais.
// RFI