Pesquisa britânica aponta queda de até 87% da taxa de câncer do colo de útero em mulheres vacinadas após introdução de um programa de imunização em 2008.
Mulheres jovens que foram vacinadas contra o papilomavírus humano (HPV) na adolescência apresentam um risco consideravelmente menor de desenvolver câncer do colo de útero, de acordo com um estudo britânico publicado nesta quinta-feira (04/11) na revista científica The Lancet.
Ao comparar as taxas de câncer do colo de útero e de pré-câncer antes e depois da introdução de um programa de imunização contra HPV na Inglaterra em 2008, os pesquisadores descobriram uma “redução substancial” de casos de câncer, especialmente entre as mulheres mais que jovens que receberam a vacina. O imunizante em questão é um produto mais antigo da farmacêutica GlaxoSmithKline chamado Cervarix.
“Nosso estudo fornece a primeira evidência direta do efeito da vacinação contra o HPV usando a vacina bivalente Cervarix na incidência do câncer do colo de útero”, escreveram os autores. “Os resultados devem tranquilizar muito aqueles que ainda estão hesitantes sobre os benefícios da vacinação contra o HPV.”
Queda de 87% nas taxas entre as mais jovens
Quando as mulheres vacinadas estavam na casa dos 20 anos de idade, aquelas que receberam a série de vacinas entre 12 e 13 anos tiveram taxas de câncer do colo de útero 87% mais baixas em comparação com as mulheres não vacinadas e que foram examinadas para a doença.
Já entre as mulheres que foram vacinadas entre 14 e 16 anos, a taxa de câncer foi 62% menor em comparação com as não vacinadas, enquanto o estudo registrou uma redução de 34% em mulheres vacinadas entre 16 e 18 anos. Por fim, as taxas de uma condição pré-cancerosa foram reduzidas em 97% em pacientes que receberam as injeções entre os 12 e 13 anos.
O estudo foi financiado pelo centro britânico de pesquisa sobre o câncer Cancer Research UK, que analisou os dados de históricos médicos de janeiro de 2006 a junho de 2019 de mulheres que foram testadas para câncer do colo de útero entre as idades de 20 e 64 anos, incluindo mulheres que receberam a vacina Cervavix a partir de sua liberação em 2008.
Durante o período de quase 13 anos, foram registrados cerca de 28 mil diagnósticos de câncer do colo de útero e 300 mil diagnósticos de uma condição pré-cancerosa chamada neoplasia intraepitelial cervical (NIC) na Inglaterra. As mulheres jovens que foram vacinadas tiveram cerca de 450 menos casos de câncer cervical e 17.200 menos casos de NIC do que o esperado em mulheres não vacinadas da mesma faixa etária.
O câncer do colo de útero, que é causado pelo papilomavírus humano – uma infecção sexualmente transmissível bastante comum – pode ser prevenido com vacinas confiáveis e seguras, e também é curável caso seja detectado precocemente. No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma estratégia global para eliminar a doença, que é um dos cânceres mais comuns em mulheres e mata centenas de milhares anualmente.
A vacina Cervarix protege contra dois tipos de HPV que são responsáveis por cerca de 70% a 80% de todos os cânceres do colo de útero. Desde setembro de 2012, a vacina quadrivalente Gardasil da farmacêutica americana MSD (Merck, nos EUA e Canadá), que protege contra quatro tipos de HPV ligados aos cânceres do colo de útero e de cabeça e pescoço, tem sido usado na Inglaterra em vez da Cervarix.
A GlaxoSmithKline também parou de vender a vacina Cervarix nos EUA devido à baixa demanda, com o Gardasil dominando o mercado mais lucrativo do mundo.
Câncer de colo de útero raro em mulheres jovens
O câncer de colo do útero é raro em mulheres jovens. O acompanhamento à medida que as mulheres envelhecem é necessário para avaliar completamente o impacto das vacinas.
Embora o estudo aparentemente apoie o amplo uso de vacinas contra o HPV, a aceitação e a disponibilidade das vacinas representam um problema, segundo observações de duas especialistas no relatório final.
“Mesmo em um país rico como a Inglaterra, com acesso gratuito à imunização contra o HPV, a adesão não atingiu a meta de vacinação de 90% para meninas de 15 anos estabelecidas pela OMS”, escreveram as ginecologistas Maggie Cruickshank e Mihaela Grigore.
Os autores do estudo também observaram várias limitações, incluindo que o câncer do colo de útero raramente se manifesta na faixa etária que foi pesquisada – mulheres que atualmente têm no máximo 25 anos – mesmo em pacientes que não foram vacinadas.