Foi suicídio ou assassinato? Para boa parte dos americanos, o suposto enforcamento do empresário Jeffrey Epstein foi forjado.
O magnata de 66 anos, amigo do presidente Donald Trump, aguardava por julgamento por abuso sexual de menores no Centro Correcional Metropolitano de Manhattan, onde foi encontrado morto no sábado (10).
“Acho que eles pensam que um país suficientemente idiota para eleger Trump é suficientemente estúpido para acreditar que Jeffrey Epstein cometeu suicídio. Ou não”, escreveu o cineasta americano Michael Moore em sua conta no Instagram.
O documentarista não é o único a duvidar da versão sobre o suicídio de Epstein. Diversas personalidades americanas se manifestam desde ontem sobre o suposto enforcamento.
“Se estivéssemos vivendo em um universo fantasioso e paranoico, eu suspeitaria do suicídio de Epstein, até mesmo se foi um verdadeiro suicídio. E querem saber? O caso Epstein mostra que estamos de fato vivendo em um universo fantasioso e paranoico”, escreveu no twitter o prêmio Nobel de economia Paul Krugman.
Nas redes sociais, centenas de publicações com hipóteses complotistas foram publicadas durante todo o fim de semana, acompanhada da hashtag #EpsteinMurder (assassinato de Epstein). Embora nada prove até o momento que o magnata não tenha se enforcado, o governo e o FBI iniciaram investigações imediatamente.
“Precisamos de repostas”
Políticos, funcionários da justiça e várias vítimas do empresário manifestaram surpresa por ele não estar sendo monitorado, duas semanas após uma tentativa fracassada de suicídio. “Precisamos de respostas. Muitas respostas”, tuitou a congressista democrata de Nova York Alexandria Ocasio-Cortez.
Já o senador Ben Sasse, do Estado do Nebraska, escreveu em carta aberta ao procurador-geral do país, William Barr, que “cabeças devem rolar” depois da morte de Epstein. Para o republicano, todos no Departamento de Justiça dos Estados Unidos sabiam que Epstein poderia se suicidar e “seus segredos obscuros não poderiam morrer com ele”.
Lisa Bloom, advogada de duas vítimas do magnata tuitou que, como Epstein não poderá ser condenado, as mulheres abusadas por ele nunca terão uma sensação de encerramento do caso. “Você roubou a grande ferramenta que precisávamos para seguir em frente com nossas vidas”, escreveu.
Mas o promotor federal de Manhattan, Geoffrey Berman, garantiu que, embora o aparente suicídio do empresário seja “outro obstáculo” para que suas vítimas obtenham justiça, o caso judicial vai continuar.
45 anos de prisão
Epstein, de 66 anos, era acusado de tráfico sexual de menores e de conspiração de tráfico de menores para explorá-los sexualmente – duas acusações passíveis de punição com um total de 45 anos de prisão.
Segundo a ata de acusação, ele teria levado menores de idade, algumas delas de 14 anos, para suas residências em Manhattan e Palm Beach, na Flórida, entre 2002 e 2005, pelo menos, “para participarem de atos sexuais com ele, depois dos quais lhes dava centenas de dólares em dinheiro”. “Também pagava algumas de suas vítimas para recrutarem mais meninas para serem abusadas”, apontou a acusação.
Os promotores alegaram que o magnata estava “consciente de que muitas das vítimas eram menores“, mas ele sempre negou as acusações. Antes de ser preso, um juiz federal rejeitou o pedido de liberdade condicional feito por sua defesa.
Os advogados do milionário propuseram que ele ficasse isolado em sua casa em Manhattan com um bracelete ou tornozeleira eletrônica, e com câmeras de vídeo que registrariam seus movimentos. A Justiça avaliou, porém, que Epstein representava um risco para a sociedade e poderia tentar fugir, já que tinha meios para isso.
O magnata, cujos amigos incluem o presidente Donald Trump, o ex-presidente Bill Clinton e o príncipe Andrew, da Grã-Bretanha, já havia sido condenado por pagar jovens por massagens sexuais.
Mas Epstein conseguiu evitar ser acusado criminalmente nestes casos, assinando um acordo controverso, no qual se declarava culpado do crime de solicitar prostituição a um menor e registrado como agressor sexual. Ele passou 13 meses em uma prisão, da qual poderia sair durante o dia e retornar à noite, antes de ser libertado, em 2009.
// RFI