Já sabemos muito sobre os animais que dividem a Terra com os humanos e, até mesmo, sobre aqueles que já viveram por aqui muito antes de nós. Mas como eles serão no futuro? Eles vão sobreviver? Evoluir? Desaparecer?
Para tentar entender este futuro, o site Gizmodo conversou com alguns cientistas e pediu para que eles contassem suas previsões sobre a evolução dos animais que dividem o planeta Terra com nós, humanos. Obviamente, nenhuma previsão deve ser 100% certa, mas as suposições são baseadas nas mudanças que já aconteceram e são bastante curiosas.
Ashley Leger, diretora de campo do Cogstone Resource Management, empresa de consultoria ambiental norte-americana, conta que sempre há um ciclo na paleontologia e que, na sua opinião, está conectado às mudanças climáticas.
“A taxa de mudança climática em nosso planeta é sem precedentes e se deve fortemente a fatores antropogênicos. Devido ao aspecto humano, eu não tenho certeza se isso acontecerá em mil, 100 mil ou milhões de anos, mas acho que vamos ter que começar a observar algumas mudanças distintas na flora e fauna da Terra”, diz a especialista.
Ela explica ainda que, quanto mais quente o nosso planeta fica, mais as plantas começarão a mudar, mesmo que lentamente. “Árvores coníferas irão lutar. Palmeiras e cactos vão florescer. Pastagens vão começar a se encolher lentamente e as coisas se tornarão a cada vez mais áridas. Haverá vida abundante perto de fontes de água e esse momento será quando a maior parte da vegetação rica e verde irá prosperar”, completa.
Jacarés, crocodilos e répteis
A paleontóloga do departamento de ciências da terra e planetários da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, Stephanie Drumheller, conta que jacarés e crocodilos já têm a reputação de serem considerados fósseis vivos, ou seja, não apresentaram muitas mudanças desde a época dos dinossauros.
A especialista conta que, de fato, animais do gênero já existiram de diversas formas, sejam onívoros ou herbívoros, com cabeças achatadas, armaduras e, até mesmo, bípedes, tal qual os dinossauros. No entanto, a ideia de que estes animais são imutáveis estão em suas características corporais, usadas no momento da caça, quando tentam se passar por um tronco na água até atacar quem se aproxima. Seus parentes lá da antiguidade também tinham esse papel.
Stephanie diz que é difícil adivinhar o que pode acontecer no futuro, mas que é divertido especular.
“Eu imagino crocodilos preenchendo, novamente, alguns de seus papéis paleontológicos: marinhos, terrestres, herbívoros, etc. Eles são muito bons em preencher nichos inesperados e já provaram ser sobreviventes no passado. Eu acho que veremos a espécie em um futuro próximo. Jacarés americanos, por exemplo, são uma história verdadeira de sucesso para a conservação. As pessoas esquecem que, às vezes, eles costumavam ser classificados como ameaçadas de extinção”, completa.
Mamíferos
Ashley falou de suas previsões para o futuro dos mamíferos, dizendo acreditar que uma megafauna animal, que vai desde cervos até elefantes, terão dois destinos: serão extintos ou começarão a encolher. Isso porque não haverá vegetação necessária para manter seus grandes corpos, fazendo com que, consequentemente, eles se tornem cada dia menores.
“Se pudermos reduzir a taxa climática, a megafauna pode ter tempo para se adaptar ao encolhimento. Também acredito que mamíferos que já são adaptados ao clima aquecido irão se dar melhor neste mundo evolutivo. O tamanho do corpo vai reduzir, a pelagem vai ficar mais curta e fina, os olhos vão ficar menores (para reduzir a perda de líquido, a umidade pode ser perdida através dos olhos), as orelhas vão ficar maiores (para resfriamento e ouvir onde a comida está) e as caudas vão ficar mais longas porque haverão mais insetos para serem espantados”, conta Leger.
A paleontóloga cita como exemplo os elefantes africanos, que contam com orelhas gigantes para a proteção contra o calor, deixando o corpo um pouco mais fresco. Os seus ouvidos possuem vários pequenos vasos sanguíneos, então as orelhas são usadas para ventilar a região e esfriar o sangue. Por estarem mais adaptados ao calor, esses animais podem ser aqueles que vão sobreviver e se adaptar ao novo mundo.
Ursos polares, infelizmente, correm um grande risco de serem extintos, mas o seu parente urso-malaio, já é acostumado ao calor e deve se adaptar. “Eu acho que todos os mamíferos adaptados ao frio serão extintos. Aqueles que vivem em climas temperados terão mais chances”, completa.
Pássaros
A redução do tamanho dos mamíferos, inclusive, pode fazer com que a caça humana aumente, pois as pessoas terão que caçar mais animais para compensar a quantidade anterior. Além disso, eles serão a cada vez mais alvos de grandes pássaros, uma vez que terão um tamanho mais fácil para o acesso, diz Ashley.
No entanto, de acordo com Jingmai O’Connor, paleontóloga e professora sênior do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências, em Pequim, o aumento da busca dos pássaros por esses mamíferos pode resultar na extinção das aves.
“Com a ausência de outros predadores, os pássaros podem começar a circular mais no chão pois não precisarão voar para escapar. E se as aves não precisam voar, seus tamanhos vão aumentar. O voo é restrito ao seu tamanho corporal. Você precisa ser muito leve para ter a capacidade de voar, pois exige muita demanda energética”, explica a professora.
Já Ashley acredita que com o crescimento da estrutura corporal dos pássaros, eles terão grandes músculos peitorais que os ajudarão a voar para mais longe, completando ainda que as cascas de ovos devem ficar a cada vez mais grossas para criar uma proteção a mais contra o calor.
Peixes
Ashley conta que é difícil prever qual será o futuro dos peixes, pois o ambiente aquático leva mais tempo para começar a refletir as mudanças climáticas, mas sugere que a fauna presente nos oceanos irá se manter constante por um longo tempo.
“Algumas criaturas maiores terão mais dificuldade devido às suas fontes de alimento. A baleia azul irá sofrer para manter o seu grande tamanho corporal, e animais como orcas e tubarões, que comem muitas focas, também sofrerão. Acredito que a população de focas vai diminuir, e assim tubarões e orcas vão encolher”, relata a especialista.
Ainda de acordo com Ashley, os animais que vivem no oceano mais profundo irão entrar em extinção, pois depois que as calotas de gelo derreterem, não haverá a água fria necessária se aprofundando.
Insetos
Os insetos já são conhecidos por adorarem locais quentes e úmidos e, quanto mais as calotas de gelo derreterem, mais deles existirão para absorver o calor. “Com isso acontecendo, a cada vez mais a água evapora e mais a Terra se torna úmida. Assim, a população de insetos explodirá. Isso também vai gerar alimento para os répteis que irão ingerir esses insetos”, complementa Ashley.
Phillip Barden, paleontólogo e professor assistente no Instituto de Tecnologia de New Jersey, também concorda que os insetos se darão muito bem com o aquecimento do planeta por preferirem climas mais aquecidos. Já em relação ao tamanho dos insetos, o crescimento é restrito porque eles não têm pulmões, respirando de forma passiva.
“Alguns dos insetos que tivemos no período geológico Tempo Profundo conseguiram aumentar de tamanho por causa da crescente quantidade de oxigênio na atmosfera”, conta o cientista, citando como exemplo a ordem extinta de libélulas gigantes Meganisoptera, que tinham até 60 centímetros de largura. Barden diz ainda que se as abelhas forem extintas, existirão outros tipos de insetos polinizadores em nichos específicos.
O exemplo do cientista é a Kalligrammatidae, família de borboleta que existiu no período jurássico que, na verdade, eram mais parecidas com bicho-lixeiro, conhecido também como formiga-leão. “Essas eram as borboletas originais, mas foram extintas e deram espaço às borboletas modernas”, explica.
Por fim, Ashley diz que a ação humana será a responsável por todas essas mudanças e que a natureza vai responder logo por todo esse desserviço prestado pelas pessoas. “Destruímos muito habitat natural e caçamos tudo”, alerta. O’Connor diz amar a humanidade e tudo o que ela é capaz, mas que os humanos são “extremamente míopes”.
“Temos essa inteligência, mas não estamos usando de uma forma realmente inteligente”, diz. “Sou um fatalista. Eu não acredito que os humanos tenham alguma esperança. Estamos definitivamente condenados. E, infelizmente, estamos levando muita coisa conosco. Estamos devastando esta linda Terra. Mas, como os paleontólogos dizem, em cinco milhões de anos tudo voltará ao normal”, finaliza.
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