Joe Biden e Vladimir Putin se preparam para uma vídeoconferência nesta terça-feira (7) em um momento em que as tensões entre Washington e Moscou se intensificam com rumores de uma iminente invasão da Ucrânia pelas forças russas. Enquanto o governo ucraniano alega que cerca de 94 mil soldados russos já estão posicionados perto da fronteira e Moscou nega ter planos de invadir o país vizinho, a Casa Branca tenta definir como agir perante uma possível ofensiva russa.
Desde que foi divulgado pela imprensa americana, na sexta-feira (3), informações dos serviços de Inteligência americanos de que o Kremlin estaria planejando uma ofensiva na Ucrânia, no início do próximo ano, com até 175.000 soldados, o tema ganhou destaque na capital americana. Muitos acreditam que Putin quer aproveitar um momento em que os EUA estão com a imagem militar em baixa, desde a retirada do Afeganistão, para avançar a presença russa na Europa.
Segundo os relatórios dos serviços de inteligência, a Rússia já está posicionada na fronteira da Ucrânia para realizar uma invasão rápida e imediata, com a construção de linhas de abastecimento de combustível e unidades médicas que poderiam sustentar um conflito prolongado.
Tanto democratas quanto republicanos concordam que Biden deve jogar duro com Putin deixando claro que a ofensiva de Moscou não será tolerada.
Mas nenhum republicano acredita que Biden, aos 79 anos, seja páreo para Putin, especialmente depois de ceder quanto ao gasoduto Nord Stream 2, que dobra o fornecimento de gás diretamente da Rússia para a Alemanha, um arranjo que tem justamente a Ucrânia como maior prejudicada. Os democratas acreditam que os 50 anos de experiência política de Biden são a melhor ferramenta para lidar com Putin.
Sem alma
A Casa Branca diz estar preparando um conjunto de iniciativas para conter a Rússia e garante contar com o apoio dos aliados europeus para deter de modo diplomático um avanço de Moscou. Mas ao receber sinal verde para o Nord Stream 2 – com o acordo que a Casa Branca fez com a Alemanha de não continuar a aplicar sanções à construção do gasoduto impostas pelo governo de Donald Trump -, Moscou obteve uma grande vitória. Assim, Putin deve começar a conversa com Biden em uma posição de vantagem, pois, nos últimos tempos, Moscou parece estar ganhando mais disputas que Washington.
O presidente americano deve dizer que o apoio americano à soberania da Ucrânia é incondicional, enquanto o líder russo deve pressionar para que os EUA impeçam que a Ucrânia seja membro da OTAN, exigindo uma garantia legal que evite a presença dos soldados da organização na fronteira com a Rússia.
Biden diz que espera que a conversa seja longa, pois ele não será intimidado pelas ameaças do presidente russo. O presidente democrata já negociou crises políticas com Putin, quando era vice de Barack Obama, inclusive quanto à pressão militar russa na Ucrânia, em 2014.
Biden conta que em dos encontros, ele disse a Putin que o líder russo não tinha alma. Já Putin, disse que que os dois se entendiam, mas será difícil os dois líderes chegarem, durante a vídeoconferência, a um entendimento que agrade aos dois lados. A Criméia foi anexada pela Rússia, em 2014, enquanto o vice Biden negociava com o Kremlin.
Cenário global
O secretário de estado, Antony Blinken diz que os EUA estarão preparados para agir se a Rússia rejeitar a diplomacia. A Ucrânia, no entanto, não deve estar muito confiante na ajuda dos EUA. Afinal sem o Nord Stream 2, Moscou precisava contar com a colaboração de Kiev para enviar gás para a Europa. De acordo com uma matéria publicada pela Politico, em julho passado, os EUA pressionaram a Ucrânia a não se manifestar contra o gasoduto, algo que não agradou Kiev.
Alguns analistas acreditam que as ações de Putin são mais para consumo interno, ou seja, para mostrar ao povo russo que ele domina o cenário global. Outros acham que a ameaça russa está sendo exagerada pelos serviços de inteligência americanos e pelo complexo industrial militar. Mas o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, não está relaxando e alega que a OTAN está dividida internamente sobre até onde deve apoiar seu país, pedindo que soldados canadenses, americanos e britânicos ofereçam apoio imediato à Kiev.
A videoconferência desta terça será a segunda vez que Biden falará com Putin, desde junho, quando os dois presidentes se reuniram em Genebra em um esforço da Casa Branca para ter um relacionamento mais estável e previsível com a Rússia. Mas, pelo menos no momento, o resultado do impasse envolvendo a Ucrânia é bastante instável e imprevisível.
// RFI