O Brasil está no foco da imprensa francesa desta quinta-feira (1°). O jornal católico La Croix traz uma reportagem, assinada por sua correspondente em São Paulo, Marie Naudascher, sobre a guerra aberta entre o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva. “Bolsonaro e Lula calibram suas armas em um Brasil em crise” é manchete do diário.
La Croix publica que, diante da situação da epidemia de Covid-19 no país, a tensão aumenta entre o atual chefe de Estado e o ex-presidente, antecipando um provável duelo nas eleições presidenciais de 2022.
A reportagem afirma que o retorno de Lula à política surpreendeu Bolsonaro, o que o incitou a adotar gestos inéditos durante a crise sanitária. “Bolsonaro, que exibe frequentemente seu ‘coronaceticismo’ resolveu até usar máscara em público durante uma missa, antes de se aglomerar, novamente, com uma multidão”, diz o jornal.
No entanto, o presidente brasileiro continua condenando as decisões dos governadores e prefeitos que decretam lockdowns para tentar frear as contaminações. Para Bolsonaro, o desemprego e a falência de empresas são consequências diretas das medidas sanitárias, reitera La Croix.
As últimas decisões do líder da extrema direita brasileira foram tomadas devido à forte pressão política que sofre: com 54% de opiniões negativas sobre sua gestão da pandemia, o presidente substituiu nesta semana semana seis ministros, entre eles o da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, o que levou os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a se demitirem, destaca o diário.
Confronto inédito com as Forças Armadas
“Bolsonaro tenta reprimir as Forças Armadas” é manchete no jornal conservador Le Figaro desta quinta-feira. Para o correspondente do diário em São Paulo, Michel Leclercq, a atitude do presidente brasileiro é o início de uma crise inédita com essa instituição que, apesar de hoje respeitar a ordem democrática, é marcada pelas práticas na época da ditadura militar no país.
Le Figaro destaca que a decisão de Bolsonaro de demitir o ministro da Defesa, dizem rumores, porque Fernando Azevedo e Silva teria proibido as Forças Armadas de interferirem em questões políticas, suscitou um forte mal estar entre os militares e uma grande preocupação por parte da oposição.
Para o cientista político Octavio Amorim Neto, especialista em questões militares, entrevistado pelo Figaro, a ruptura das Forças Armadas com Bolsonaro é uma derrota política do presidente.
O futuro desta relação é incerto, afirma a matéria, lembrando que não se sabe até o momento se o novo ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto, vai respeitar a Constituição ou aceitar as orientações radicais de Bolsonaro, o que levaria à politização das Forças Armadas.
O diário lembra que, na terça-feira (31), na véspera do aniversário do Golpe Militar no Brasil, Braga Netto convocou o país a celebrar a tomada do poder pelas Forças Armadas, em 1964, que, segundo ele, serviu para “pacificar o país”.
// RFI