De São Mateus, região periférica na Zona Leste de São Paulo, para o mundo, o coletivo OPNI levou sua arte afro para a América do Norte, onde chegaram causando. Isso porque os brasileiros grafitaram um (ainda) polêmico beijo entre dois homens negros, que acabou gerando debate em uma universidade no Estados Unidos.
A dupla Val e Toddy Opni, que lidera o grupo artístico composto por 20 pessoas, está em uma jornada internacional há mais de um mês. Por meio da arte urbana, foram convidados para ir até a Universidade do Texas, em Austin, para propor aos alunos uma reflexão diante de temas contemporâneos.
O desenho feito no meio do campus, onde se lê a frase “amor não é doença“, serviu para levar àquele ambiente o debate sobre uma decisão da Justiça brasileira que dá abertura aos psicólogos tratarem a homossexualidade como doença, decisão que tem gerado uma onda de manifestações de repúdio aqui e lá fora.
Os artistas sempre promovem por meio de seus sprays a força e a importância da cultura negra e seus personagens. Eles fizeram uso dessa temática durante o intercâmbio cultural, mostrando ainda como é preciso e possível combater qualquer tipo de preconceito e violência enfrentada por tal parcela da população tanto no Brasil como nos EUA.
“Os negros passam por tantas situações complicadas e precisam se posicionar a todo o momento para não serem dizimados por uma sociedade que os oprime. Usamos nossa arte para refletir sobre como, historicamente, o negro foi e ainda é massacrado“, dizem.
“Não podemos deixar de observar a ascensão e resistência desse povo, num contraste ainda evidente de silenciamento e busca por voz. A causa da homossexualidade, da liberdade de ser o que é, perpassa nosso povo”, afirmam.
Depois de uma passagem por Los Angeles, eles foram ainda para a Tulane, importante universidade de New Orleans, onde participaram de inúmeras ações com grupos de estudantes e pesquisadores, destacando personagens negros ao longo da história e o quanto suas batalhas serão sempre importantes, promovem debates, inspiram e geram sentimento de representatividade.
Os integrantes do OPNI conversaram com os estudantes sobre escravidão, Zumbi dos Palmares e Dandara, além de racismo e outros tipos de violência sofrida pelos negros.
“Nesses debates, procuramos sempre ressaltar o quanto as batalhas de muitos dos nossos nos transformaram nos dias de hoje, nos trouxeram a oportunidade de estar em evidência e até mesmo ascenderam nossa autoestima, apesar de tudo”, concluem.
Ao retratar o amor, as desigualdades e as minorias, o grupo busca não só por impacto e representação, mas empatia nos olhos de quem vê, visando um passo à frente dentro da nossa evolução como humanidade.
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