Qual crime Exú cometeu para estar preso há 100 anos?, querem saber as lideranças religiosas de matriz africana. Isso porque a polícia civil do Rio de Janeiro tem em seu poder mais de 200 peças sagrados da Umbanda e Candomblé, apreendidas desde a Primeira República (1889-1930). Nessa época as religiões afros eram proibidas, devotos perseguidos e os objetos sacros apreendidos.
Mais de 100 anos depois o Estado continua mantendo esse acervo cultural e religioso sobre seu poder e longe dos olhos da sociedade.
Por isso o mandato do deputado estadual Flávio Serafini (Psol) está desenvolvendo uma campanha chamada “Libertem o nosso sagrado”, para que esses objetos possam ser destinados a outro museu, para serem expostos de forma adequada e respeitosa.
Até 2010, as peças estavam expostas junto com armas, falsificações, bandeiras nazistas, bandeiras integralistas, no Museu da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, fechado desde então.
Entre 1945 e 1985 o acervo religioso foi nomeado de maneira pejorativa como “Coleção de Magia Negra”, no Museu de Criminologia. Agora, líderes das religiões de matriz africana querem destinar esse acervo a outro museu, ainda a ser escolhido.
“Queremos devolver essas peças sagradas a seus verdadeiros herdeiros. Expor esse acervo de religiões de matriz africana é também uma oportunidade de mostrar a contribuição que tiveram na formação da cultura brasileira. Seu valor é religioso, mas também cultural”, destaca o deputado Flávio Serafini.
Na internet, consta na página oficial da polícia a informação de que o acervo “pertence” ao museu.
“Pertence ao Museu da Polícia Civil uma importantíssima coleção constituída por objetos de cultos afro-brasileiros, recolhidos pela polícia no início do século XX, por força da legislação vigente na época e especialmente do art. 157 da lei penal, que reprimia ‘o espiritismo, a magia e seus sortilégios’”, diz o texto publicado pela polícia.
Além disso, o texto informa que “no momento, se prepara nova exposição permanente com museografia compatível com o acervo”, mas não diz quando e onde será exposto.
O Brasil de Fato entrou em contato com assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro e também com o Museu da Polícia Civil, mas não obteve resposta até o fechamento dessa reportagem.