Medimos o campo magnético da Terra há 400 anos. Em todo esse tempo, o campo tem se deslocado para oeste. Não sabemos por quê, mas uma nova hipótese sugere que ondas lentas e estranhas no núcleo externo da Terra podem ser as causadoras do desvio.
Chamadas ondas de Rossby, surgem em fluidos rotativos. Também são conhecidas como “ondas planetárias” e são encontradas em muitos corpos celestes grandes e giratórios, como nos oceanos e na atmosfera da Terra, em Júpiter e no Sol.
O núcleo externo da Terra também é um fluido rotativo, o que significa que ondas de Rossby também circulam nesse núcleo.
Enquanto as ondas oceânicas e atmosféricas de Rossby têm cristas que se movem para oeste, contra a rotação leste da Terra, as ondas de Rossby no núcleo do planeta se movem na direção contrária – suas cristas vão sempre para leste.
De acordo com O. P. Bardsley, doutorando da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, essas ondas no núcleo externo terrestre podem explicar um dos mistérios sobre o nosso campo magnético.
A rotação do ferro magnético no núcleo da Terra dá origem ao campo geomagnético do planeta.
Esse campo geomagnético, por sua vez, protege o planeta da radiação solar, tornando-o importante para a vida na superfície. Sem esse campo, seríamos bombardeados por partículas radioativas do Sol.
Enquanto tentava entender as ondas que se propagam por esse núcleo, Bardsley percebeu que as anomalias reveladas por medições de declinação magnética apresentavam uma tendência a se mover para oeste também.
Nos últimos quatro séculos, os cientistas têm feito medições da declinação magnética – a diferença entre o norte verdadeiro e o ponto em que a agulha da bússola aponta. Como o campo magnético está repleto de pequenas anomalias locais, a agulha da bússola se move um pouco em comparação com o norte verdadeiro, dependendo de onde está.
“A deriva para oeste se manifesta principalmente como uma série de bolhas sobre o Atlântico, perto do Equador”, disse Bardsley.
Teorias para explicar essa deriva têm se focado na dinâmica do núcleo externo. A hipótese mais popular, segundo Bardsley, é a de que o núcleo externo contém um giro semelhante ao jato de ar da atmosfera, que se move para oeste e arrasta o campo magnético da Terra junto com ele.
O problema é que não há razão particular para que esse giro exista. Até pode existir, mas como não temos evidências diretas dele, outras explicações são possíveis.
Uma possibilidade é a de que as ondas de Rossby são a razão por trás da estranheza do campo magnético na superfície da Terra. As ondas de Rossby no núcleo têm cristas que se movem para o leste, ao contrário da deriva que se move para o oeste. Mas as cristas de ondas nem sempre representam seu movimento total de energia.
“É perfeitamente possível ter um grupo de ondas onde as cristas estão indo para leste, mas a maior parte da energia está indo para oeste”, afirmou Bardsley.
Medidas da superfície do campo geomagnético podem ler a maior parte da sua energia, mas não todos os pequenos detalhes. Assim, as ondas de Rossby com uma tendência de larga escala para mover sua energia para oeste poderiam explicar o deslocamento para o oeste medido sobre o Oceano Atlântico.
Os detalhes em pequena escala, como as cristas que se movem para leste, seriam impossíveis de detectar. A hipótese do cientista foi publicada na quarta-feira (16) em um artigo nos Proceedings of the Royal Society A.
Ciberia // HypeScience / ZAP